Meu Bem, Meu Mal

Tudo que é proibido é mais gostoso? O amor se sustenta perigosamente? Bonnie & Clyde demonstra o incomum romance, o amor firmado na adrenalina, viver sob tensão constante em meio aos crimes descabidos do jovem casal. Relacionamento inortodoxo? O amor é justamente o ponto-violento do filme: impulsiona os dois protagonistas em meio à vivência celebrada de crimes, assaltos e fugas audaciosas. O casal real tornou-se mito, o filme de Arthur Penn é o delírio argumentativo do endeusamento de duas figuras carismáticas? Eis que o cinema tratou de abordar o casal com muita química, diálogos atrevidos e paixão passional. Bonnie Parker encontra sua cara-metade, seu idealismo amoroso e tesão no energético charmoso Clyde Barrow - sua impotência sexual, certa timidez aos atos sexuais libidinosos e frustração por não conseguir provocar orgasmos, tanto nele quanto nela, coloca certa dificuldade na dignidade do romance. Existe relação sexualizada sem o ato propriamente dito? Mas Bonnie desmede insinuações, maneja seu revólver e explode em beijos para Clyde. Ambos vivem no tesão da criminalidade, porém o sexo não atinge o ápice do gozo. O filme ficciona os fatos reais, pois suaviza a maldade do casal perante à sociedade: assim, observamos um romance efervescente na tela.

Faye Dunaway concebe uma interpretação agressiva junto com seu másculo interpretativo Warren Beatty: é elegância sensual, fome de viver, seduzem com um puro estado libertador. A película determina uma visão glamourizada, sexy e dinâmica da vida dos assaltantes, contudo verbaliza forte argumento narrativo e um aspecto bastante humano nas situações dramáticas. Aparentemente, o casal comete os assassinatos inesperadamente, não o fazem por mal. Apenas anseiam pela aventura, e um pelo outro.

Bonnie e Clyde são imaturos, destemidos e bastante esquentados: vivem sem pensar no amanhã, cada dia é prazer sem limites. Existia bastante cumplicidade, entrosamento e fascínio no casal - impossível não ser contagiado por ambos. O casal não retrocede, a tensão aumenta com o ímpeto da sexualidade sendo construída a todo instante, reverbera até nos outros personagens - desencadeia uma onda de amorosidade e violência, eis o paradigma do contraste? Bonnie cumpre sua ousadia, flertando ironicamente com policiais e até com os companheiros da quadrilha. Com o clima sufocante, o cerco vai se fechando: a morte é um alerta para o casal. Apaixonados pelo perigo: a rebeldia é jamais desistir. Impera o melodrama, impera o tesão. Ainda que se saibamos do triste final dos anti-heróis criminosos, resiste o desejo, imaginário do espectador, de outro desfecho. Exatamente por isso o epílogo é absolutamente avassalador, cruel e realista - a cena violenta final é amplamente chocante, antológica e virou referência: após a orgia de balas, o banho de sangue dos amantes alvejados pelos policiais é intensamente impactante. Ninguém nunca está preparado para a morte.

O filme tem uma fotografia com cores explosivas, concebe malícia e tem o tom quente das cenas situadas. No ano de lançamento, tornou-se popular entre os jovens apologistas do breaking the law por mitificar e glorificar o crime, por contextualizar e quebrar tabus sexuais nitidamente, pelo guarda-roupa (foram vendidas milhares de boinas iguais às de Faye Dunaway) e pela montagem invulgar – coerente encaixe perfeição com a narrativa biográfica apresentada. O horror do filme foi atenuado pela elegância, pelo humor ruidoso e pelo som frenético do banjo na criteriosa trilha sonora. A direção posiciona elegância estética, não banaliza a violência. Um exercício de feminilidade mesclado com testosterona. Brutalmente deslumbrante.

29 opinaram | apimente também!:

Paulo Alt disse...

Cris,

Tudo que é proibido é mais gostoso, sim! hahahahahah Sem dúvida, haha.

Sabe, nunca assisti esse não. Gostei bastante do pôster que você colocou ai, esses olhares sob o rostos dos mesmos é impressionante, né? Hey, foi você que fez?? Hum, rs. Quando me comentou desse juro que veio uma vontade de ir pesquisar preço e ler sinopse mais detalhada e etc... agora to contente que postou ele! Que Wikipédia que nada! rs

A crítica sexualizada do começo ao fim tá perfeita. Tá no ápice do tesão criminal, ahhaha. "...feminilidade mesclado com testosterona" Ual, rs. Achei que foi bem construido, ficou muito simpático o jeito que você ilustrou. Simpático e acho que um dos mais completos que eu já vi por aqui. Tanto é que tô aqui matutando qual arquivo excluir pra poder baixar esse... Será que encontro pra comprar???

Abraçooo meu Amigo ^^

Rodrigo Mendes disse...

"Eu sou o Bonnie e eu sou Clyde e nós roubamos bancos!"

Esse filme caipira, excelente obra de arte, fez barulho na época e ele nem chega ter uma violência ao estilo Sam Peckinpah.

Adoro mesmo é a atuação coadjuvante do jovem Gene Hackman e o considero o melhor Bang Bang de Hollywood.

No script o personagem de Warren seria gay. Ficaria mais escandaloso e acho que perderia o brilho..e se fontes dignas disseram que ele era impotente...plausível. A cena com a Faye que ilustra a sua impotência sexual é a coisa mais esdruxula do filme! Não conseguiram atenuar o sexo no filme, no entanto, a violência brilha vermelho na tela!

Belo texto, Flw Cris!

Anônimo disse...

eis um filme que marcou época e é sobreviveu ao tempo.

parafraseando o seu post: "brutalmente deslumbrante".

abração.

Reinaldo Glioche disse...

Taí um filme super nostálgico. Gostei do teu olhar. Só para acrescentar: O biógrafo de Warren Beatty bateu o martelo há duas semanas atrás. Beatty dormiu com mais de 12.300 mulheres. Põe testtosterona nisso meu irmão. É recorde absoluto!

ABS

Gema disse...

Nã ha mt a dizer, este filme é soberbo, maravilhoso... é um filme intemporal.
Bjs

Cristiane Costa disse...

Outro deslumbrante post by Cristiane Contreiras. Parabéns! Vir aqui é sempre um deleite provocativo.

Eu preciso ver este filme agora, confesso que nunca o vi, mas me chama a atenção o fato de Clyde ser impotente. Dá-me a a impressão de que, dentro deste contexto, tudo que é impossível é mais gostoso, esta impotência sexual dele dá mais tesão ainda, canalizando este gozo para as ações criminosas. Será? Talvez, afinla o tesão tem que ser canalizado outras formas de orgasmo. Estou viajando aqui nas supostas idéias(rsrs)...

Não acho que o amor é sustentado perigosamente, porque o Amor é mais compassivo e mais convencional pra mim, mas a paixão sim. Ela é bem melhor no perigo, ela só é paixão em sua mais explosiva caracterização. Na verdade, penso que violentas paixões só são paixões porque derramam um pouco de sangue, nas mais simbólica das suas evocações.

Abraço!

Ju Fuzetto disse...

Parabéns pelo blog!!!

Muito show!!!

Abraço

Edilson Cravo disse...

Querido Cris:

Obrigado as palavras tão carinhosas. Não sabia que era o dono deste espaço tão interessante e informativo. Acho teu blog de um teor de informações bárbaro. Super feliz em trocarmos figurinha. Linda semana...beijão.

Luna Gandra disse...

Já coloquei em minha lista. Adoro suas dicas!

Guto Angélico disse...

Eu adoro esse filme!Excelente dica!

Guto Angélico disse...

Eu adoro esse filme!Excelente dica!

LuEs disse...

Acredito que o principal fator de aproximação que pode haver quando se retrata pessoas marginalizadas em relação ao padrão da sociedade é a huminização. Pelo que você escreveu ao discorrer sobre a elegância e a sofisticação do amor e das ações espontâneas do casal, o filme cumpre o objetivo de fazer com que o espectador compreenda a situação de Bonnie e Clyde. Compreendê-los torna-se importante a fim de que nós não os tenhamos como selvagens.

A construção de personagens aventureiros e ousados também certamente deve ser positivo, afinal todo espectador se mira nas qualidades e sua atenção fica voltada para aquilo que ele considera bom na caracterização de uma figura cinematográfica.

Embora eu tenha uma pequena tendência a pensar que o filme não possui toda a sexualidade que você sugere que tenha, eu realmente que haja em Bonnie e Clyde o clamor pelo sexo. Somente a rebeldia sexual implicaria numa constante ascensão do amor que um sente pelo outro e também pela aventura.

Esse filme rendeu indicações aos atores principais e, dado o talento deles, creio que as indicações tenham sido válidas. Ainda não pude conferir essa visão cinematográfica da vida desses anti-heróis famosos, quase míticos. Me esforçarei para poder vê-la logo...

Parabéns pelo seu texto. Como usualmente faz, você estruturou bem os seus argumentos e provavelmente convence a maioria das pessoas que lêem a assistir a esse filme.
;)

Mero disse...

ai eu gosto do filme mas acho que violencia e amor nao combina o filme so eh relevante pelo fato de ser baseado em uma historia real e o filme suaviza muito a casal principal acho que os eram dois asassinos e quem mata nao pode amar de forma plena emfim

Angel disse...

Viver no perigo é bom as vezes
tem dias que eu quero só estar com alguém, sem tesão, sem adrenalina
só estar junto já me conformaria
abraços e ótima semana pra ti cara

Roberto Simões disse...

Ainda não vi o filme, mas gosto muito muito dos actores e penso que a sua crítica me seduziu bastante para a visualização da obra. Parabéns.

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Amanda Aouad disse...

"Ninguém está preparado para morte" é verdade. Por mais que esperemos o fim trágico do anti-herói, sempre é um choque.
Este filme é um marco na linguagem cinematográfica, intercalando humor e violência em um ritmo alucinante.
Belo texto, como sempre.

bjs

Vanessa Souza disse...

Esse filme é fantástico!

Belo escrito.

BRENNO BEZERRA disse...

Preciso conhecer o cinema de Betty.

Aline Dias disse...

Nunca assisti.
parece realmente bacana.
valeu a dica!

Wagner Kern Velasques Jr. disse...

Cris, esse filme é muito bom.
E estou gostando deste espaço que me dá ótimas dicas.

Abs

Marcelo A. disse...

Nossa, faz um tempo que não assisto à "Uma Rajada de Balas"! Via sempre quando a Globo fazia, anualmente, aqueles Super Cine Especial, só com grandes clássicos da Telona. Adorava! Dia desses o vi sendo exibido no TCM, mas fazia outra coisa e não pude ver. Pena.

Deu vontade de conferir novamente. Acho que vou pegá-lo neste fim de semana.

Ah, valeu pelo comentário lá no blog!

:D

Cintia Carvalho disse...

Oi Cris!

Meu jovem, ao entrar aqui para ler este texto e ver o que o pessoal achou me deparei com o comentário do Reinaldo ai em cima. Quando vi o número, comecei a rir, não me contive e fui pesquisar na net se a informação era verdadeira, afinal fiquei pensando como alguém conseguiu chegar a este número né.
Inacreditavel. Então tive a idéia de falar sobre este assunto e sobre alguns filmes com Warren Beatty. A idéia do meu post surgiu daqui.

Quanto a seu texto vc conseguiu definir muito bem a atmosfera de violência, tensão e atração que um exercia sobre o outro.

Achei muito interessante a forma como vc descreveu cada um dos personagens. Uma visão oposta a que eu tinha deles. Magnífica.
Recentemente ele passou no TCM e pude assistir. Um deleite rever este maravilhoso filme átraves de suas palavras. Parabéns!

Um de seus melhores textos na minha opinião.

Um beijinho.

Renato Oliveira disse...

Acho interessante na maneira como escreves, que jamais podemos ter a sensação "este trabalho é neutro" mas há sempre um tom realístico, que trazendo algum questionamento a partir da idéia que foi apresentada. Muito bom!

Ah, obrigado pela indicação ao lado. Sinto-me lisonjeado. :]
Preciso sim incluir uma lista com endereços de blog, e claro que não me esquecerei do teu, jamais! haha

Um abraço!

Marcio Melo disse...

Sem dúvidas o proibido é mais gostoso e emocionante.

E esta é uma obra magnífica que vi tem tanto tempo que agora que li sua resenha deu vontade de assistir novamente!

Abração!

Anônimo disse...

Obrigado pela visita! Teu blog é como poucos! Parabéns pela resenha!

--- disse...

Adoro esse filme, um dos meus preferidos da década de 60. Rápido, intenso, violento, somado a Nouvelle Vague, e elementos que compõe aquela atmosfera linda de transgressão. E a ultima cena é uma coisa incrivelmente foda.

Mateus Souza disse...

Esse filme é mais importante do que a maioria das pessoas pensam. Ele foi o marco inicial da Nova Holywood - ao lado de A Primeira Noite de um Homem. É dever de todo cinéfilo assisti-lo!

Bom texto, abraço!

Emmanuela disse...

Obrigada por apreciar o meu texto e digo com certeza absoluta que adorei sua descrição sobre esse marco do bang-bang. Um abraço !!!

Fernando disse...

A escolha pela criminalidade seria uma forma de contornar o fracasso de Clyde na vida sexual? Freud explica? hehehehe... mais uma vez uma bela análise sua sobre um filme... parabéns!

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