Das Intimidades Sexuais?

É pura testosterona observar Marlon Brando na completa tensão sexual, sedução e desejo. A luxúria arde em cada diálogo, o desejo evidente em cada cena. O deleite é o embate psicológico dele com Vivien Leigh. Uma Rua Chamada Pecado é um filme definitivo, obra máxima do cinema clássico, um ícone atemporal. É o ponto de confluência entre o cinema de Elia Kazan com o texto sexualizado de Tennessee Williams. O roteiro tem um primor na adaptação, mas o elenco é amplamente perfeito: as atuações são intensas, os diálogos provocativos e o filme todo concebe um clima sexual-psicológico incrível. O trabalho sensual de Elia Kazan sob o texto ardente de Tennessee Wiliams concebeu um novo estilo às adaptações do teatro à língua cinematográfica, um novo foco narrativo e uma direção mais inovadora - mas, sem perder a essência teatral. Há a concepção de toda uma atmosfera da sexualidade, entre quatro paredes: Stanley Kowalski (Marlon Brando) é o filho de imigrantes poloneses, um homem bruto, de óbvio apelo sexual, estúpido e vingativo, que teme pelo seu casamento com a chegada de Blanche DuBois (Vivien Leigh), irmã de sua mulher - Stella (Kim Hunter) é escrava de sua paixão por Stanley: Simplesmente não consegue resistir a ele, e ele usa e abusa de sua sexualidade para conseguir tudo o que quer com ela – inclusive uma certa “absolvição” no final da peça original. Blanche é assediada pelo amigo de Stanley, Mitch (Karl Malden). Ele é o próprio americano grandão, meio abobalhado, que vive à sombra da mãe - é quase que a inocência encarnada, tenta ser cordial e correto, corteja a mulher que confia ser pura e casta - Blanche - mas descobre posteriormente que ela tem um passado de mentiras e promiscuidade.

A tragédia, aliás, está o tempo todo presente na trama. Além do perfil teatral proposto pela direção de Kazan, a película cativa com o determinado duelo entre Brando e Leigh - ele explosivo, institivo rude, másculo agressivo e ela com sua feminilidade frágil, etérea e até poética. A trilha sonora de Alex North é um capricho e auxilia nos ápices das cenas ferinas com alto teor de puro charme. O filme contextualiza o sexo em cada cena: a ideologia dos personagens é exercer o desejo? Há uma certa motivação idealizada na necessidade do sexo, na aprendizagem de lidar com as próprias ânsias das artimanhas do tesão. Os cenários, as falas e até os atores parecem estar em pleno estado de luxúria condenativa. O sexo é um conhecimento coletivo de reflexão? O fogo do desejo consome cada situação e a tensão sexual torna o roteiro repleto desta contextualização da libido existencial. Há sutis subcontextos de homossexualidade, traição e desejos reprimidos.

Definitivamente Marlon Brando proporciona uma explosão de testosterona, sua virilidade ímpar e sua malícia exala em cada gesto interpretativo. Vivien Leigh demonstra a sua feminilidade no ódio e desejo - Blanche sente-se atraída irrevogavelmente pelo marido da irmã, com olhares contidos de puro tesão reprimido, mas demonstra seu ódio em plena dissimulação. Ela quer o macho machista e selvagem para si própria? É gostoso observar a sensualidade de Brando com sua camisa suada, colada ao corpo e com uma masculinidade agressiva pulsante. Delicioso másculo! O garanhão causa tesão e repulsa - seduz com sua virilidade, mas causa aversão por ser o exímio expemplo de machista ultrapassado, ainda mais por ser um agressor à mulher.

O duelo de Stanley com Blanche seria a relação do tesão se fundamentar nas extremidades do amor e ódio? Ou a repulsa é aliada à atração sexual? Havia fetiches inconsoláveis segredados por Blanche, talvez até o próprio Stanley tivesse consciência disso. A dualidade transposta pelos dois personagens funcionam como elementos-chave, atrativos e completo ritmo argumentativo da trama densa: sob o mesmo teto, ambos têm que interagir dentro da exteriorização da tensão sexual que configura a relação, além da convivência psicológica absorvida nos tratos e nas personalidades tão distintas. Stella, dotada de instrução e comportamentos mais aristocráticos tentava resistir aos impulsos provocativos da libido exercida pelos atos e artimanhas rudes de Stanley - no íntimo, claramente, ambos se desejavam mortalmente. É um jogo psico-sexual perigoso, mas o prazer é evidente. A química entre os atores, os diálogos ferinos e a liberação de testosterona tornam tudo absolutamente palpável sexualmente - nunca o sexo foi tão febril e tão sutil, em forte teor narrativo cinematográfico. Definitivamente uma obra-prima, jamais envelhecido, nem mesmo pela censura.

A Streetcar Named Desire (EUA, 1951)
Direção de Elia Kazan
Roteiro de Tennessee Williams e Oscar Saul
Com Marlon Brando, Vivien Leigh, Kim Hunter, Karl Malden

24 opinaram | apimente também!:

Alan Raspante disse...

Ótimo!
Mais um filme para a minha lista.
Já ouvi falar muito desse filme, mas nunca nem procurei saber sobre ele, e me interessei bastente pela história....

Paulo Alt disse...

Cris,

Sabe que eu acho ótimo que ele seja estúpido e vingativo? Ahhh.. eu adoro, haha, me divirto, e muito. Leigh e sua feminilidade as vezes, pra mim, no contexto do filme claro, beira a raiva kkkk. Não sei viu, faz tempo que assisti, mas quando assisto eu entro dentro desse filme. São cenas bem reais, dá impressão que os sentimentos ali são palpáveis, eles se retorcem. Tudo muito bom né?

Uma coisa que eu acho... eu gosto sim da capa do dvd duplo que tenho, aquela que trás só o Brando num preto e branco meio azulado... mas acho que ficaria perfeito se trouxesse de algum modo aquela cena onde ela rasga a camisa dele, ou algo parecido, naun me lembro. Onde ele tá agachado. Tentaria encaixar algum close disso pra ver se cairia bem. Achei tão dramático, único.

Onde há o sutil contexto homossexual? Não entendi essa parte só.

Não envelhecido mesmo. Aquela aura do bonde na cidade, ou subúrbio sei lá, as tramas... eternos né????

Eu já não tinha lido esse filme aqui não?? Tive um deja vu agora, rs.

Abraço meu Amigo ^^

Rodrigo Mendes disse...

Da vontade de pegar aquele BONDE e ir fazer carinho no Marlon, rs!

Perfeito!

Abs!

Cristiano Contreiras disse...

ALAN RASPANTE: Pois é meu filme-de-cabeceira, sabia disso? E sinceramente: considero ele uma obra-prima! Abs e assista! rs

PAULO[ALT]: É um belo filme "palpável" mesmo, rs
Meu dvd também é duplo, tá? rs

Reveja o filme e note o contexto homossexual, rs

RODRIGO MENDES: E a Vivien? Coitada! rs

Anônimo disse...

Adoro. Eu prefiro filmes assim, onde o desejo, a sensualidade tomam conta, é algo de energia neh, nao sei. Otimo filme.

Luciano disse...

Ta aí, um dos meus filmes de cabeceira também. Uma obra-prima dessas que fazem o cinema valer tanto a pena. Ótimo texto, Cris. Ah, você já viu Gata em Teto de Zinco Quente? Também uma adaptação do Tenessee Williams. Outra maravilha. Um abraço!

História é Pop! disse...

Acho que o próprio perfil bruto de Stanley nos induz a ver seu lado sexy. A forma como se veste, fala e suas atitudes são puro libido.
É natural Stella e Blanche sentirem-se envolvidas de tal forma com este ser tão “afrodisíaco” ele representa tudo de pior e melhor que ambas desejam ou odeiam. Ele o homem primitivo que Blanche abomina, mas ao mesmo tempo é a figura mais viril que ela já viu.Contrário de seu pretendente Micth...
Stella é sexualmente dependente de Stanley e ela sabe disso, está consciente que este homem de postura machista a mantêm refém.
Stanley por sua vez sabe que é um ser sedutor e com isso joga com as duas irmãs deixando-as hora sob tensão, hora sob êxtase total.
Mesmo hoje com toda liberdade que o cinema tem, nunca vi tanto sexo e desejo explicito em apenas gestos e olhares como neste filme...

Luiz disse...

Oi Cristiano! Muito bom ver você falando de um clássico como este.Ler seu blog tem sido sempre uma experiência radical para mim. Em breve devo postar um texto sobre a peça, já que você se encarregou de falar tão bem do filme. Senti falta só de um componente que para mim é gritante na peça e na adaptação de Kazan: a loucura!!!!

Abração!!!!

Cristiano Contreiras disse...

RENATO ORLANDI: Concordo e também prefiro!

LUCIANO CARNEIRO: Meu filme de cabeceira, sim! Ah! Adoro Gata em teto de zinco quente, em breve eu revejo pra apimentá-lo! rs

JÚNIA L.: Onde assino? Concordo!!! rs

LUIGI LOPES: Loucura pode ser consequência do desejo? Pois, Luigi, é um belo filme! Abs

FERNANDO: hauahauahauahauha! Besta, aparece pra falar isso, né? Saudade!

Clenio disse...

Oi, Cris

Tudo que eu poderia dizer sobre esse filme eu já disse no meu blog. Sendo assim uma última declaração a respeito: O FILME É SEXO PURO! (com tudo que isso pode acarretar, inclusive a loucura...)

Grande beijo.

leo disse...

Sempre ouvi falar muitíssimo bem do filme , mas não sei porque diabos porque nunca assisti.
Irei assistir brevemente e falarei dele no blog.

Abraços

Rodrigo disse...

Cara, Brando é o melhor de todos. Tirando Godfather (que é tipo Pelé ou Jimmy Hendrix), o melhor papel dele é em "Sindicato de Ladrões". Acho ele tão dúbio naquele filme, segue perfeitamente a história.
Valeu pela visita e voltarei sempre.

Tucha disse...

Vi este filme há milhares de anos atras.Seu texto, também cheio de testosterona me deu tesão pra revê-lo.

Jenson J, disse...

Não sou fã do Brando, nem acho ele belissimo como a grande maioria, porém um grande ator ele foi de fato! Aqui, tenho mais uma das muitas que ainda não vi!

As Tertulías disse...

Ótima postagem... a úncica coisa que nunca entendi: porque esta peca (as vezes) chama-se em portugues (no Brasil) "Uma rua chamada pecado"? (estranho, nao? para "Um bonde chamado Desejos...)

Luiz Henrique disse...

Marlon Brando no auge da tensão sexual, e usando o máximo de sua força erótica a favor de uma história maravilhosa. É um daqueles filmes "sem defeito", que mesmo que existam, a gente nem nota de tão bom que é. Também é filme da minha cabeceira!

Marcos Eduardo Nascimento disse...

Cris, bom-dia!

Amigo, eu coloco "Uma rua chamado pecado", no mesmo patamar de outro grande filme: Gata em teto de zinco quente. Liz Taylor e Paul Newman possuem a mesma quimica e tensao sexual que Vivian e Marlon. Personagens marginalizados tanto em experiencias de vida como nas regras de sobrevivencia. Novamente, palmas à voce!

Sempre coeso, direto, questionador e imparcial. Seus textos sao um deleite. Continue sempre assim!

Apareça no meu blog. Sinto falta dos seus comentarios sempre oportunos.

Abraços. Um ótimo domingo.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Definitivamente esta é uma obra prima mesmo ... jamais deixará de ser ... passa o tempo e ela sempre atual ...

perfeito mais uma vez ... que novidade né? rs

;-)

bruno knott disse...

Pois é... mais um daqueles que sempre ouvi falar mas nunca consegui assistir...

acho que tá na hora.

Anônimo disse...

Oi Cristiano, tive problemas com meu Blog anterior, estou chamando meus amigos para me acompanharem nesse também.

Abs

Cristiano Contreiras disse...

CLENIO: Eu adorei seu texto sobre este filme, Clen. É puro sexo mesmo esse filme, perfeito e clássico imbatível!

LEO: Veja, tenho certeza que vai se deliciar! rs

RODRIGO: Bem lembrado, preciso escrever sobre Sindicato de Ladrões, outro filme precioso! rs Abs e volte sempre!

TUCHA: Pura testosterona, de fato! Veja e reveja, rs

JENSON J: Ah, eu não sou fã, mas admiro ele, rs..veja este filme!

LUIS HENRIQUE: Concordo contigo!

TERTÚLIAS...: Vai entender a "censura" da época, né? Abs!

MARCOS EDUARDO: Em breve terá aqui Gata em teto de zinco quente, sim...
Ah, apareço no teu blog sim! abs

PAULO BRACCINI: Perfeição pura mesmo, rs

BRUNO KNOTT: Já passou da hora, vá ver! rs

GM: Ok!

O Cara da Locadora disse...

É um filme muito bom mesmo. Impressionantemente apenas o Marlon Brando não ganhou o Oscar nesse filme (dos 4 indicados), que absurdo, não? rs...

Syl disse...

Gostei da sua crítica.
Acabei de adquirir a edição de colecionador desta masterpiece.
um filme que vai além da bondade de estranhos.
Maravilhoso!

cristian-monteiro disse...

Filme incrível, dos mais sexuais/sensuais que já vi, acho magnifica a maneira com que cada personagem demonstra seu tesão de uma forma diferente...

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