Carne Trêmula definitivamente é o ápice da concepção ardente de Pedro Almodóvar: revela-se como discurso cinematográfico de pura sensualidade, num misto de erotismo conceitual e intensidade humana. Eis o determinismo do vislumbre de um expresso thriller-sexual dotado de sentimentalidade emocional. Sensivelmente, o filme atinge com seu roteiro que prioriza motivações dramáticas do íntimo humano, em um panorama surpreendentemente de casualidades e coincidências, sempre pontuados pelo amor e pela passionalidade dos personagens (paixão egoísta, possessividade, impulso irracional?). Almodóvar desconstrói clichês na sua abordagem meticulosa: observa-se o cotidiano caliente de seres humanos que se cruzam, inesperadamente, confrontados pelo destino. Os personagens são motivados irrevogavelmente pelo desejo, pelo tesão, a passionalidade é conseqüência do sentimento libidinoso. A construção revela-se na obra-prima: um ensaio cru de ódio, vingança, desespero, atração física e tensão sexual cicatrizando todas as teias das relações sociais dos personagens. Cinco personagens em um único destino emaranhado: o despertar pela sentimentalidade sexualizada consagra o filme - talvez um próprio estudo sobre problemas das carências humanas? Através deste filme, o universo Almodoviano foi acentuado com muita consagração.
É uma delícia observar os desempenhos de Javier Bardem, totalmente humanizado e dotado de fragilidades - acompanhado com muita provocação com o restante dos atores Liberto Rabal, Francesca Neri, Ángela Molina e José Sancho. A cena inicial, com a participação de Penélope Cruz, com o parto dentro do ônibus, é um dos recursos mais estéticos marcantes da película. A sintonia do elenco é voraz, a interpretação transcende o aspecto trágico que o filme concebe, desde o início o espectador sente que Almodóvar não concede restrições: seu foco é justamente nas temáticas das dores da sensatez sexual humana, consistente em exageros de diálogos obtusos e emoções à flor da pele. O desespero narrativo, criativo em inteligência, demonstra temas das relações humanas - traições, inconstâncias sentimentais, taras sexuais incondicionais, fetiches, apreço pelo gozo extremo e, seguramente, há a pertinência em questionar valores sobre o prazer e felicidade. Denuncia que todo ser humano não consegue viver sozinho? Os personagens, personificados pelo elenco dramático, expressam o melodrama.
A excelente direção cuidadosa de Pedro Almodóvar garante um realismo de grandes nuances psicológicas: através das coincidências vivenciadas pelos personagens, bem como as escolhas e situações, o espectador absorve toda a poesia humana do que visualiza. Almodóvar insere seus arquétipos: prostitutas, homens viris, mulheres sexualmente ardilosas. Há um estudo sobre o sentimento da culpa, o arrependimento contrapondo-se com a impulsividade, a redenção. A traição desmedida, a obsessão compulsória e a angústia da complexidade em se lidar com sentimentos tão adversos e impactantes resultam em ações impulsivas, despidas de meias-verdades, mas ao mesmo tempo sinuosas e delicadas. A fotografia de Affonson Beato revela-se vibrante, sensual em tons de vermelho sangue, alto teor fotográfico de beleza provocativa. A inspiração Almodoviana recria-se e é transformada gradualmente em poesias em cada cena, no trabalho de cenografia, no seu universo gritante de corpos interpretativos. As cenas sexuais são visualmente excitantes, lirismo libidinoso, tesão na atmosfera visual: corpos tremem, suor, gemidos e ângulos puramente surreais.
O sexo fomentado por Almodóvar é sensível, agressivo e até lúdico - o misto que conceitua o seu estilo febril. Como se livrar da dor da carne que pulsa desejo? Há uma imposição feminista no filme, como sempre as mulheres são referências do diretor - são usadas como porta-vozes de insatisfação sentimental/sexual e dotadas de muita personalidade. Os diálogos humanos rasgam a hipocrisia social, denuncia a sexualidade da personalidade e os sentimentos são expostos. Há um tom paranóico dos personagens, muito bem justificado pela vitalidade de ciúme que permeia a atmosfera do filme. Um trabalho primoroso, onde a narrativa não se apieda de expor a verdade em proporcionar adversidades do destino e reviravoltas alarmantes.
Carne Tremula (Espanha, 1997)
Direção de Pedro Almodóvar
Roteiro de Pedro Almodóvar, Jorge Guerricaechevarría e Ray Loriga
Com Javier Bardem, Liberto Rabal, Francesa Neri, José Sancho, Ângela Molina, Mariola Fuentes, Penélope Cruz
É uma delícia observar os desempenhos de Javier Bardem, totalmente humanizado e dotado de fragilidades - acompanhado com muita provocação com o restante dos atores Liberto Rabal, Francesca Neri, Ángela Molina e José Sancho. A cena inicial, com a participação de Penélope Cruz, com o parto dentro do ônibus, é um dos recursos mais estéticos marcantes da película. A sintonia do elenco é voraz, a interpretação transcende o aspecto trágico que o filme concebe, desde o início o espectador sente que Almodóvar não concede restrições: seu foco é justamente nas temáticas das dores da sensatez sexual humana, consistente em exageros de diálogos obtusos e emoções à flor da pele. O desespero narrativo, criativo em inteligência, demonstra temas das relações humanas - traições, inconstâncias sentimentais, taras sexuais incondicionais, fetiches, apreço pelo gozo extremo e, seguramente, há a pertinência em questionar valores sobre o prazer e felicidade. Denuncia que todo ser humano não consegue viver sozinho? Os personagens, personificados pelo elenco dramático, expressam o melodrama.
A excelente direção cuidadosa de Pedro Almodóvar garante um realismo de grandes nuances psicológicas: através das coincidências vivenciadas pelos personagens, bem como as escolhas e situações, o espectador absorve toda a poesia humana do que visualiza. Almodóvar insere seus arquétipos: prostitutas, homens viris, mulheres sexualmente ardilosas. Há um estudo sobre o sentimento da culpa, o arrependimento contrapondo-se com a impulsividade, a redenção. A traição desmedida, a obsessão compulsória e a angústia da complexidade em se lidar com sentimentos tão adversos e impactantes resultam em ações impulsivas, despidas de meias-verdades, mas ao mesmo tempo sinuosas e delicadas. A fotografia de Affonson Beato revela-se vibrante, sensual em tons de vermelho sangue, alto teor fotográfico de beleza provocativa. A inspiração Almodoviana recria-se e é transformada gradualmente em poesias em cada cena, no trabalho de cenografia, no seu universo gritante de corpos interpretativos. As cenas sexuais são visualmente excitantes, lirismo libidinoso, tesão na atmosfera visual: corpos tremem, suor, gemidos e ângulos puramente surreais.
O sexo fomentado por Almodóvar é sensível, agressivo e até lúdico - o misto que conceitua o seu estilo febril. Como se livrar da dor da carne que pulsa desejo? Há uma imposição feminista no filme, como sempre as mulheres são referências do diretor - são usadas como porta-vozes de insatisfação sentimental/sexual e dotadas de muita personalidade. Os diálogos humanos rasgam a hipocrisia social, denuncia a sexualidade da personalidade e os sentimentos são expostos. Há um tom paranóico dos personagens, muito bem justificado pela vitalidade de ciúme que permeia a atmosfera do filme. Um trabalho primoroso, onde a narrativa não se apieda de expor a verdade em proporcionar adversidades do destino e reviravoltas alarmantes.
Carne Tremula (Espanha, 1997)
Direção de Pedro Almodóvar
Roteiro de Pedro Almodóvar, Jorge Guerricaechevarría e Ray Loriga
Com Javier Bardem, Liberto Rabal, Francesa Neri, José Sancho, Ângela Molina, Mariola Fuentes, Penélope Cruz
31 opinaram | apimente também!:
Vingança, ódio e tensão sexual?! ingredientes perfeitos para um grande filme. Interessante quem sabe não entra na minha lista apimentária!!! Abraços
Magistral e profundamente inspirado na encenação, Carne Trêmula respira uma cadência sensual, por vezes até erótica, e revela-se irrepreensível na orquestração dos recursos artísticos.
5/5 Do melhor de Almodóvar
Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema
Olá! Muito obrigado, amigo! Tá bem interessante seu trabalho também!
Abraço
Um dos meus Almodovar preferidos, dono de alguns dos seus melhores diálogos e de cenas pra lá de excitantes. Liberto Rabal representa bem a dicotomia inocência-sensualidade que permeia todo o roteiro. Ninguém é completamente bom ou completamente mau no filme, talvez apenas o protagonista paire acima dos desiludidos colegas de tragédia. Um filme para ver de joelhos!
Um dos poucos filmes do Almodóvar que ainda não vi!
Cris...
meu amigo haha descobri almodovar por vc e por rô, até então não conhecia niente, sabes. tirando má educação esse eh meu segundo filme favorito até agora. akela história do ônibus, uma fotografia [pelo menos nakele momento em especial] e até todo o desenvolvimento e reviravolta me encantam. achei o elenco excelente.
sabe uma coisa que curto em seu blog? quando vc começa a "estudar o estudo" que os filmes fazem sobre determinado tema. não só sobre os personagens e o que eles sentem, ou a razão das ações, mas esse significado que fica presente depois que assiste. sei lá, vc consegue captar tudo de um jeito único seu e jogar em palavras rsrsrs
bom... lembro e lembrarei desse filme por uma razão especial, vc sabe, e tô precisando assistir de novo. você também... assistiu de novo? =XXXX eh mais fácil qndo não precisa procurar pelos torrents =P rsrsrsrs
Abraçoooo meu Amigo ^^
;]
esqueci de dizer,
acho a cena do poster uma das melhores, sei lá.. expressiva, no filme. rs
amoesse filme acho um puta filme uma das poucas obras dele que nao sao autorais acho a cena em o protagonista transa e indaga sobre o seu desenpenho e a mulher respeode pessimo vc me comeu como uam galinha achei brutalmente sincero adorei
eu amo o jeito que almodóvar se expressa...sua linguagem tão.....
.....
ARREBATADORA.....
e este filme é de tirar o fôlego...
mas meu preferido dele é '' a lei do desejo''
...
adoooooooro este apimentário^^
bjbj
Cris,
que delicia saborear novamente um filme deste espanhol no Apimentário. Continue, tudo que envolve AL..é pimenta! rs..e das bem vermelhas!!!
Curioso por ser um filme adaptado do romande de Ruth Rendell que não li. Pode falar dele no futuro? Outros roteiristas trabalharam neste filme e não me lembro dos créditos: Ray Loriga e Jorge Guerricaechevarría.
Foram creditados? Enfim preciso rever!
Adoro 'Carne Trêmula', acho um exercício classe A dele, um passo para a consagração de 'Tudo Sobre Minha Mãe' que breve estarei postando.
Se não fosse esta película não sei o que seria do Bardem (muito melhor aqui do que em 'Onde Os Fracos Não Tem vez') e da Cruz (mas gosto dela muito mais em 'Mi Madre').
A fotografia do brasileiro Beato é outro ponto alto da fita e adoro o fôlego thriller que ele da à obra... digo fôlego pq aqui é sinônimo de tesão..e como se trata de Almodóvar...
Abs! O post ficou ótimo danadinho!
Almodovar tem o dom de realizar todas as fantasias existentes tanto na equipe do filme quanto no público.
Almodovar tem o dom de realizar todas as fantasias existentes tanto na equipe do filme quanto no público.
Cara, assisti a este filme e gostei bastante, mas confesso que depois de ler uma resenha desta qualidade, senti vontade de assisti-lo novamente. Almodovar é ímpar.
Impressão minha ou senti um pouco de machismo quando fala como sempre as mulheres são referências do diretor?! Deve ser impressão mesmo.
Achei realmente interessante, o modo ardente como você conta faz parecer que o filme é... Deixa pra lá. agora sim está na minha lista apimentária.
Adoro esse filme. ADORO. Acho a fotografia um deslumbre, fora a linda performance do Javier Bardem! Belo texto!
gostei muito do seu texto. essa paixão possessiva, carregada de desejo carnal... o filme passa tudo isso. muito sensual... esse filme me deixou muito excitado.
Ok, confesso que ainda não conferi esse filme, por isso Ata-me e Tudo sobre minha mãe, ficam na minha lista de preferidos.
Vou procurar corrigir essa falha em breve.
bjs
tambem aDoro o filme KIKA.....
Oi Cris, texto bem "apimentado", digo, inspirado rs. Carne Trêmula não é o meu preferido do Almodóvar, mas ele resume, realmente, os traços mais marcantes do seu estilo. Gosto também das saídas que ele encontrou para a curva ascendente do roteiro. As cenas de sexo são ótimas também, esse desejo aflorado funciona que é uma beleza, como você tão bem ressaltou. Reafirmo aqui o que escrevi no meu post sobre Abraços Partidos, Almodóvar é o melhor cineasta em atividade. Quando tudo parece monótono, chato, americanóide, lá vem ele com um tema instigante, persogens absurdos, diálogos deliciosos... E a direção de arte? Adoro os cenários, as formas, as cores,... Mesmo nessa fase dele menos kitsch. É isso. Você sugeriu e eu apareci. Abração!!!
vale so de ter Javier Bardem!
Esse filme é maravilhoso! Sem duvidas um dos 5 melhores do Almodóvar. Roteiro intrigante, personagens inusitados e sitauções bizarras, mas reais. Sentimentos como vngança, desejo, paixão platônica e ódio. É Almodóvar - dos melhores! Ótimo texto, adorei.
Gostei do texto apimentado sobre sensualidade lirica da A carne tremula. Vc sabe dosar pimenta e sabor nas palavras. Lhe sigo.
Sou curioso para ver este filme, mas ainda não tive oportunidade.
De Almodovar assisti ao crítico "Kika" e o sensível "Fale com Ela".
Abraço
discordando de olho do pombo, kika é o pior filme de almodóvar, na minha opinião. e aí cris o que vc acha?
Vi já vários filmes do almodovar, mas não vi este!Gosto bastante do trabalho dele!
Este enredo parece promissor!A tua crítica fabulosa!
beijinhos
Meu primeiro contato com essa explosão de talento e sensualidade que é o Javier Bardem, que neste filme consegue manter o equilíbrio entre a fragilidade imposta por sua condição de deficiente e, por outro, uma personalidade enérgica, determinada e sexy. Depois, ele repetiria esse mesmo estilo de interpretação fora dos clichês com o personagem de Mar Adentro (pelo qual deveria ter sido pelo menos indicado ao Oscar). Almodóvar sempre revelando atores fantásticos para o mundo!
E a trilha sonora? Fantástica! O filme dispensa qualquer comentário.
Esse deu vontade de experimentar tela a dentro!!!! Quero Vê-lo açúcar...
Você adora apimentar as escolhas de meus filmes né? rs ;D
Assisti o filme nesse final de semana, realmente um filme surpreendente, diferente que explora ao máximo a sensualidade/sexualidade. (Almodovar é Almodovar) rs
Adorei o post, sintetizou muito bem!
Abs.
Na minha opinião esse é o melhor filme do diretor. Amo, adoro. insano.
Apesar de já ter testado o formato antes, considero "Carne Trêmula" a primeira grande aparição do estilo Almodóvar mais sexy e voluptuoso. Não só esse, mas o ja elogiado aqui nos comments "A Lei do Desejo" e tantos outros que se seguiram mostram uma marca registrada apaixonante, não vista em outros diretores.
Parabéns pelo blog, ótimo texto!
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