Perdas e danos?

P.S. Eu te amo é um filme melancólico com o verniz de melodrama com toques de humor. A trama foca na personagem Holly Kennedy, jovem dinâmica e frágil, casada com o seu amor idealizado, Gerry. O grande caos ocorre quando ele falece, deixando-a desamparada e sem nenhuma perspectiva de vida. Com sua trágica morte, eis que o estado de vida, antes alegre, beira à depressão. Holly tende a viver insegura, apática e constantemente enfrenta crises de emoção ao constatar a impossibilidade de seguir em frente, seu grande amante ao lado. Como superar a dor de uma perda inesperada? Como seguir com uma vida consistente num amor despedaçado? Segue o inesperado: Gerry reservou a sua esposa, antes mesmo de morrer, um oferecimento de surpresa: inúmeras cartas surgem, endereçadas a Holly, cada uma contendo mensagens de reflexão, esperança, amororosidade - mensagens articuladas com direcionamentos, uma tentativa de guiar Holly num caminho de recuperação, um amparo gentil, espécie de manter sua memória acesa. Será que estas cartas surgem como artefatos de alívio a dor inabalável que sente o coração de Holly? As mensagens soam como guias textuais, orientando um mundo estranho e nada acolhedor - através de cada carta lida, Holly consegue manter a chama da paixão dentro de si, seu coração sentimental tende a permanecer aquiescido, envolta de segurança.


A grande sacada do roteiro baseado no best-seller de Cecelia Ahern é ter a boa presença interpretativa de Hilary Swank e Gerard Butler como personificações do casal apaixonado, o embalo talentoso bem como a sintonia entre ambos presenteia com carisma proporcional. A cena inicial do filme, repleta de diálogos ininterruptos que contextualizam uma briga de casal, pra depois firmar em beijos sentimentais, é eficiente. Enquanto Holly é interpretada por Swank com fragilidade, romantismo e delicadeza feminina; Gerard Butler exerce seu charme exibindo seu sorriso deslumbrante, nítida extensão vocal para cantar músicas e alto teor masculinizado sexualizado, típico galanteador. Decerto, ambos concebem uma verve interpretativa correta, envolvente e provoca até certa emoção em algumas cenas. O diretor Richard LaGravenese evita excessos de clichê, ainda que no roteiro tenha elementos de humor que, mesmo não inovadores, conseguem atenuar o drama exagerado vivido pela personagem principal.

Psicologicamente, Holly tem uma leve baixa-estima, sua dependência pelo marido é ainda mais agressiva quando ela tem que enfrentar a perda da morte: não consegue deixar de vivenciá-lo, procura todos seus vestígios pelos cantos da casa, não inibe sua ausência nem mesmo dentro de si - é como se a presença masculina, dentro de seu lar desfeito, colocasse ordem em sua vida, não é apenas o amor que causa a sensação de saudade: mais além, ela depende dos vícios dos mimos que o marido expressava, diariamente presa no passado. Holly acostumou-se a uma relação firmada na sua subordinação feminina, na maneira como ela própria se determinava dependente dos carinhos e da auto-proteção do marido. E Gerry tinha consciência disto, tanto que deixou as cartas para que, mesmo após a morte, conseguisse oferecer certo afago estrutural à amada.

O filme é um simples estudo sobre perdas e danos, solidão, nostalgia amorosa - há, dentro das motivações de Holly e até dos demais personagens secundários, sensos de busca pela afirmação, estados sensíveis de carências afetivas, comprometimento com a superação. Mais que renascer, Holly necessita compreender que sua vida não tem relação eterna com o ex-marido: precisa de libertação. Na angustiante busca da aceitação de um luto, ela reaprende a valorizar pequenas coisas, reafirma valores e reavalia o sexo como determinante - é cortejada por homens, ainda que não esqueça Gerry. Deve-se permitir ao sexo? Obviamente, há de surgir nova esperança em um novo amor? As cartas vão mapeando a reconstrução sentimental da viúva? Rodeada de amigos e de inteligência aguçada e de uma família rude e cativante que a sufoca, ama-a e a deixa louca, Holly hesita, se contorce, chora, e brinca na sua trajetória em direção a uma nova vida. Como um amor tão intenso pode tornar a finitude da morte no início de uma nova vida? O filme transmite a busca pela superação. O roteiro condensa o melodrama com leve presença do humor, favorecendo o desenvolvimento da narrativa. E a pontuação da narrativa encontra a delícia de ser divida pelas estações do ano, além da fotografia que evidencia cores fortes e planos em closes. Há coadjuvantes que dão charme: Kathy Bates, Lisa Kundrow, Gina Gershom e um Harry Connick Jr totalmente sexy. Viver é preciso, faça acontecer, sem medo de arrependimento. Um drama que se aprofunda pela mente humana, aborda os doloridos sentimentos da alma feminina, da angústia da separação. Todo ser que ama tem medo de perder. Desde quando romantismo é fora de moda?

P.S. I Love You (EUA, 2007)
Direção de Richard LaGravenese
Roteiro de Richard LaGravenese e Steven Rogers, baseado no livro de Cecelia Ahern
Com Hilary Swank, Gerard Butler, Lisa Kudrow, Gina Gershon, Kathy Bates, Harry Connick Jr.

43 opinaram | apimente também!:

Caco disse...

Eu vi esse. Eu gostei. Essas comédias românticas de hoje em dia estão muito artificiais, sei lá.

Robson Saldanha disse...

Esse é daqueles filmes em que tudo tinha pra dar certo mas no fim das contas falhou. Acho que a história tem um bom caminho mas não atingiu seu objetivo final... não conseguiu me encantar ao menos!

Flávio Gonçalves disse...

Não gostei.

Petro disse...

Eu gostei deste filme...muito maneiro. Um abraço.P.

Daniela Gomes disse...

Hei Cris, bela análise. Mas tenho que confessar que este drama não me tocou como deveria. Soa superficial de mais, quase sem nenhuma aprofundação de personagem. Assisti apenas uma vez, talvez eu deva assisí-lo novamente.
:)

Obs: fiquei de ler as suas postagens sobre a saga Crepúsculo, e eu não me esqueci. Me passe algum e-mail seu, é mais fácil e mais espaçoso que um comentário. Rs

Abraços

Tania regina Contreiras disse...

Hum...parece interessante, quero assistir. Mas fiquei aqui me perguntando se essas cartas que ele deixa a ela teriam o sentido de continuar afagando-a depois de sua partida ou se de aprisioná-la num eterno amor não eterno. Será?

Beijos

Gui Barreto disse...

Oi Cristiano. Bela crítica sobre P.S.Eu te Amo. Você conseguiu explorar a profundidade do enredo de uma maneira exemplar. Parabens. Para mim, o filme tem um "que" de sobrenatural, que ronda o imaginário da protagonista, e que, ao mesmo tempo, decepciona o espectador. Vou parar por aqui senão acabo soltando um spoiler, o que não é minha intenção. Abrs.

Arthur Dantas disse...

tenho uma pergunta: vc tem alguma formação em cinema ou é só um admirador?

vc fala como quem passa horas em cima de livros e assistindo filmes estudando na academia...

Parabéns.!

luis galvão disse...

'Todo ser que ama tem medo de perder', acho que é exatamente isso que me fez gostar um pouco menos dessa obra. É tão água com açúcar que me deixou um pouco desesperançado com o amor (rsrs). Exageros a parte, acho que o filme tem méritos, mas nem tantos.

Anônimo disse...

Romantismo não está fora de moda. Todos adoram romances.. aos que abominam, lembraças de um amor mal vivido..
P.S. Eu te amo é um filme espetacular.
Parabéns, seu blog é um sucesso!

Anônimo disse...

Amo esse filme, é ótimo. Tenho ele guardadinho no lap e quando me dá saudades, vejo de novo. É leve e gostoso de ver. Faz um bemmm.
bjsss, boa dica.
http://marliborges.blogspot.com/

Alan Raspante disse...

Eu amo esse filme, gosto da Swank e Buttler. Esse filme é muito massa.
Ótima crítica !xD

Luiz Henrique Oliveira disse...

Você me falou sobre esse filme outro dia, me deu até vontade de ver. Mas fui procurar saber mais sobre ele naquele mesmo dia e o que eu li não foi positivo. Entretanto, pelo que disse, vou acreditar mais em sua palavra e procurar ver, mesmo que eu não seja lá grande fã desse gênero. Não custa nada, né?

E aliás, fique de olho no 3P, no fim de semana terá algo para você lá! \o

Abraço!

Anônimo disse...

Eu chorei taaaaanto nesse filme, mas tanto que eu comprei o DVD só para chorar de vez em quando. rs. Achei muito lindo a forma como todos se preocuparam com o luto da personagem. Principalmente com relação a mãe, as vezes nos deparamos com situações assim né, a pessoa mais dura conosco, aquela pela qual pensamos que menos se preocupa é a que mais esta envolvida em querer te ensinar ou faze-lo melhorar em algo... Gostei muito das partes com humor e da beleza dos lugares mostrados também. Bjao!

Paulo Alt disse...

"...faça acontecer, sem medo de arrependimento. [...] Todo ser que ama tem medo de perder."
Engraçado o sr. apontar algumas questões justo quando eu to lendo o livro e pensando em assistir de novo o filme que eu adoro! kkkkkkkkkkk

little cris,
Faz tempo que naun comentava nada, embora passava e lia alguns. Aliás, lia pelo e-mail mesmo, te falei. Mas esse aqui fiz questão de vir. A imagem dele ficou tão legal por aqui neh?

Você devia também ler o livro. A parte do karaokê e outras são um tanto diferentes, os personagens também. Achei o filme mais um "baseado livremente". Mas leia se puder. To rindo bastante. E concordei muito com o que tá escrito no verso, algo como "chorar e sorrir" num romance de primeira classe.

Ah, eh tão estranho comentar depois de tanto tempo, to meio fora de forma disso, falei pro Ro no blog dele lá.
E me avisa quando eu puder votar no TopBlog? Hum.

Abraçu seu bobo =]] rs
;]

Mateus Souza disse...

Coincidentemente, o post dessa semana do meu blog é sobre esse filme também, mas não fui eu que escrevi. O texto, lá, fala bem do filme, eu, pelo contrário, odiei.

Uma bomba.

C@uros@ disse...

Olá meu cara amigo, muita qualidade em sua análise. O romantismo sempre nos atrai, vale sempre refletir. Parabéns pela qualidade dos seus textos.

forte abraço

C@urosa

BRENNO BEZERRA disse...

A Swank, mesmo com 2 Oscar, se prestou a mediocridades. Lamento.

Hugo disse...

Apesar de ser um tipo de filme igual a tantos outros que são feitos por encomenda para emocionar, este é interessante e a atuação do par central é muito simpática e sensível.

Abraço

Anônimo disse...

Muito bom, além de emocionante, uma temática rica. Bom filme, boa apimentada.

joyce Pretah disse...

eu amo este filme....

fiquei feliz com o final dele....

uma comédia sutil,que merece ser vista...adoro a Hilary Swank ...sua interpretação,seu jeito de se expressar....

a cena que eu mais gosto,que aliás,me desintegro de tanto chorar é aquela que ela canta ''i love you 'till the end...''

lindo!!

amei o post cris!!

beeeijo

Clenio disse...

Adoro esse filme, choro desesperadamente sempre que assisto. Adoro o casal central, adoro as coadjuvantes, mas Harry Connick Jr não me desce.
Acho linda a ideia dele de manter-se presente na vida da esposa, mas também me soa como um certo egoísmo, sei lá... se eu estivesse no lugar dela, por exemplo, adoraria ter essa lembrança constante da pessoa que amo.
Enfim...
Belo filme e uma química bastante boa entre Gerard e Swank.

Abraços,
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

Mirella Machado disse...

Eu fico meio dividida em questão de ver esse, assim como já teve gente que me falou mal dele já teve gente que me falou super bem. eu não aproveitei a oportunidade de vê-lo quando ele estava passando quase todo dia, mas achei a história interessante, vou locá-lo.

Mirella Machado disse...

Reformulando o comentário:
De certa forma Hillary me lembrou Bella quando você diz que ela era totalmente dependente do marido. Sim, Bella não consegue viver sem Edward, creio que sua força interior tbm é totalmente independente dele, pois´em algumas cenas ela mostra isso sem ter Edward por perto. Olha só, Bella não consegue nem imaginar a possibilidade de viver longe de seu grande amor que ela começa a entrar em desespero. A relação entre as duas personagesn é bem maior que você imagina, é só ter um olhar mais a fundo. E olha que eu nem o vi o filme ainda por isso posso estar errada ou não. Bjos Blogmurus

Anônimo disse...

Completamente bobo e besta! Dispensavel!

Denise disse...

Imitando Lulu Santos:
(prefiro na interpretação de Caetano rs)
"Talvez eu seja o último romântico(...)

(...)Tolice é viver a vida assim sem aventura
Deixa ser pelo coração
Se é loucura então, melhor não ter razão.

nao posso avaliar se enquanto FILME é bom,mas a romantica que ha em mim
gostou e ate chorou rsrs

passando tb pra agradecer sua visita e gentileza das palavras.

grata

Francisco disse...

Amigo Cristiano.
Vim agradecer sua visita no meu blog. Apareça sempre.
Vou voltar com mais calma para ler seus posts, pois tem muita coisa boa por aqui, e blogs assim, valem a pena seguir.
Um abraço.

Kamila disse...

Adorei a sua interpretação sobre este filme, que é uma comédia romântica acima da média e que conta uma linda história de amor. Especialmente porque ela nos ensina a reconhecer o momento de deixar uma história para trás para podermos começar outra.

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

Eu amo um filme que tem este mesmo título, mas a protagonista é a Juliette Binoche. é um filme um pouco diferente no enredo, mas acho que o tema lembra um pouco a este, assisti quando ainda morava em São Paulo capital, no Centro Cultural do Metrô Vergueiro.

Mas este me pareceu muito bom, lembra um pouco outro filme francês que eu assisti mais recente mente, mas não me lembro o nome, era com actores estreantes.

Au revoir.
Take care.

Lu Dantas disse...

Olá! Vim retribuir a sua visita lá no blog e tenho que admitir que fiquei de queixo caído. São tantas informações e preciosidades! Puxa! Parabéns!

Eu vi esse filme e gostei!

Vou voltar outras vezes e seguir, ok?

Bjs

Fábio Henrique Carmo disse...

Ainda não vi esse, mas me interessei mais depois de seu texto!

Peter Cera disse...

realmente estou em falta contigo, desculpe, mas ja andei por aqui, só não deixei recado, é que minha vida anda uma loucura, um xero

Pimentinha Brasileira disse...

Parece que temos algo em comum: apimentar! rs
Adorei a sua visita. Venha sempre. Sigo você, pois adoro pimentas e também cinema!
Abraços!

pseudo-autor disse...

Minha irmã é fãzaça desse filme! Eu vi na ocasião por causa da dupla de atores. Hollywood bem que poderia melhorar um pouco o gênero comédia romântica, deixando de fazer certas baboseiras (como as que a Cameron Diaz costuma realizar). O resultado desse é acima da média.

Cultura? O Lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Universo Cidade disse...

tu escreveu sobre um filme"santos justiceiros"? se tiver,me manda o link!

Alyson Santos disse...

Em um comentário que fiz, assim que assisti a esse filme é que a primeira cena realmente é eficiente. Um aglomerado de sentimentos,num mesmo contexto narrativo, que revelam um relacionamento de um casal.

Mas, acho que depois o filme cai um pouco, porém ainda consegue manter um clima agradável e, mesmo que não provoque risos de tempo em tempo, ainda assim é agradável até o desfecho. Vi mais pela Lisa K. do que por qualquer outra coisa, mas no final acabei gostando do filme num todo.

Abraço!

bruno knott disse...

Cris, tenho medo que o seu texto seja melhor que o filme... hahah

Sem dúvida, me chamou bastante a atenção...

Abs.

Fernando disse...

Que belo texto! Parabéns... e não por acaso teve tantos comentários. Muita gente se sensibiliza com a personagem que sofre por amor.

Celso Andrade disse...

E ai conterrâneo manteremos mais contato!

quanto ao filme acho que falaram bem demais dele e quando assisti minhas expectativas não corresponderam mais é um tanto bem feito a trilha é boa, a atriz foi escolha errada, o ator maravilhoso, esse foi um daqueles filmes que tocou fogo nele mesmo!

ABRAÇO

CELSO - (do blog poços de mim).

Nivaldete disse...

Bom descobrir esse espaço... Virei outras vezes. Um abraço.

Mirella Machado disse...

Lisa Kundrow não combinou muito com o filme, a eterna Phoebe parece que não se desprendeu dela no filme.

Mas uma coisa que estranhei foi o fato de ter gostado do filme, eu realmente achei que era uma filme melodrámatico (até um pouco) mas seu toque de humor na hora certa ainda faz o filme ser mais "sensual" para o telesepectador do que antes. Eu amei mesmo o filme. Bjos Metido

Edson Cacimiro disse...

Eu vi esse filme mas não me lembro do final dele,tenho que ver novamente.

Amanda Aouad disse...

Pois é, romantismo não deve mesmo nunca estar fora de moda, e a forma como esse filme nos conduz na vida dos dois é ótima. Sai do lugar comum, nos envolve, é um aprendizado.

bjs

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