Desejo Feminino

Qual sentido do ciúme? Como se sustenta o amor firmado nas diferenças comportamentais? Há sentimento que prevalece nas instabilidades emocionais? O filme romeno Doente de Amor aborda um universo deliciosamente comum: o círculo afetivo feminino configurado no teor do lesbianismo humanizado. Alex (Ioana Barbu) e Kiki (Maria Popistasu) conhecem-se, por acaso, na universidade onde estudam, rapidamente deparam-se com uma afinidade inquestionável. Por ter dificuldades de adaptação e certo incômodo nos dormitórios da instituição, Alex aluga um quarto no mesmo prédio onde reside Kiki - firma-se, tão evidente, um foco maior na convivência, ambas atingem uma maturidade e, surpreendendo o destino, deparam-se em tesões absolutos e mútuos. Tornam-se inseparáveis, confidentes e a química sexual evolui, gradualmente. Eis o namoro favorecido pela intimidade repleta de papos, beijos e sexo diário. Ambas são sensivelmente femininas, de beleza cativante, charme perceptivo. Contudo, nem tudo são flores: ao passo da evolução da convivência, externam diferenças notórias. Alex, de falsa pacífica, revela uma personalidade forte e certa ansiedade desmedida - tende a aplicar-se nos estudos de modo a não desiludir os seus pais, de origem humilde. Já Kiki revela sua instabilidade, insegurança e desequilíbrio emocional: sente ciúme da namorada, com autoritarismo tenta manejar os passos da namorada e incomoda-se até que ela tenha contato com outrem.

O roteiro, repleto de maneirismos de diálogos francos e conversas íntimas entre as duas, serve para pontuar essa relação que, inicialmente cúmplice, evidencia-se como algo doentio, daí o título. E mais, a problemática ocorre quando entra em cena Sandu (Tudor Chirila), irmão de Kiki, que claramente expressa um sentimento de possessividade sexual pela irmã: intromete-se veemente na relação das duas, incorporando seu lado descontrolado emotivo e deliberadamente dotado de ciúme equivocado. Sandu quer a irmã para ele? Claramente levanta dúvidas e sua relação incestuosa - e Kiki permite-se aos jogos de manipulação do irmão? Ainda que Alex se mostre contra a esse desvio de comportamento dele, há muita sexualidade perversa por baixo do pano familiar entre elas e nem tudo é o que transparece. Qual motivo da obsessão do irmão por ela? Por que Sandu sente tanta possessividade e desejo lascivo por ela? Talvez, ambos cresceram no convívio da digressão sexual que evidencia o teor pervertido - ambos viveram em experiências secretas de sexo em família?

O longa ateia fogo por pautar questões sobre moral, homossexualidade, relações de pais e filhas, incesto. O roteiro deixa explícito que toda relação doentia é um laço difícil de desfazer, e às vezes, em vez de buscar o sentimento verdadeiro do amor, acomoda-se no primeiro sentimento que foi despertado. A direção de Tudor Girgiu valoriza mais a intimidade das personagens, como um observatório de um cotidiano sexual e amoroso de duas mulheres e a interferência alheia masculina por parte do dominador Sandu. A relação dele com a irmã beira ao caos: não consegue se desvencilhar da possessividade, há um amor obscuro que julga e fere todos ao redor de Kiki - nem ela mesma consegue manter a ira do irmão que, costuma explodir em crises ciumentas, causa descontrole emotivo. E o incesto entre ambos é explorado logo na primeira cena do filme, determina a polêmica relação de ciúme, prazer e torpor que condiciona o envolvimento entre os irmãos. Sandu quer a irmã pra ele, sua intolerância com todos ao redor demonstra o quão doente é - ninguém é detentor de um ser humano, visto que não há controle para quem se permite ao cárcere da submissão sexual. E relações firmadas na possessividade costumam trazer mágoas jamais cicatrizadas. O incesto, confirmado pela cena de sua consumação absoluta, se mantém presente constante no decorrer do filme que se afirma como recurso do melodrama lésbico.

O filme mantém uma narrativa linear, estruturado em seqüências com câmera subjetiva e planos em close-up para captar sensações e expressões emotivas dos atores. Os diálogos, muitas vezes enérgicos, demonstram o caráter informal - o filme fala a linguagem dos jovens, tudo é bem tangível. É uma película que permeia entre o drama familiar pecaminoso e o conto romântico de transgressão, e se joga na tentativa de descobrir em que bases se fundamentam esse amor livre de restrições socialmente ditadas. O final realista permite reflexões condizentes com a proposta demonstrada ao longo da projeção das cenas.

Legaturi Bolnavicioase (Romênia, 2006)
Direção de Tudor Giurgiu
Roteiro de Cecilia Stefanescu e Razvan Radulescu
Com Maria Popistasu, Ioana Barbu, Tudor Chirila, Catalina Murgea, Mircea Diaconu

26 opinaram | apimente também!:

Cristiano Contreiras disse...

Amigos,

quem estiver interessado, aqui o link pra download:

http://www.megaupload.com/?d=SOWF67C8

Tania regina Contreiras disse...

Tô ligada, verei se baixo.

Beijos

Mirella Machado disse...

Interessantes agora vc coloca até pra baixar...

Eu vou falar honestamente, não gostei muito da premissa desse filme, esse nerdo ou sei lá. Algo me fez não ter muita vontade de assisti-lo, mas quem sabe um dia eu topo com ele por aí vejo.

Cristiane Costa disse...

Oi meu querido amigo CRIS,

Quando comecei a ler sua resenha,pensei que o peso maior da possessividade seria entre as namoradas pois já é sabido que rola muito ciúmes entre lésbicas, mas eis que você, vira o jogo assim como o filme parece-me virar o jogo e foca a relação de posse do irmão com relação a irmã, alimentando por desejos incestuosos.

Serei sincera, meu amore!

Deve ser um filme dificíl de absorver porque incesto é bem tabu mesmo. Eu mesma não aprovo relações incestuosas e isso é muito em função porque minha relação com meus irmãos é praticamente de muito respeito, até quando os acho bonitos não existe nem mesmo uma ultra admiração do ponto de vista físico.

Agora primos, já... ah sim, já senti-me atraída por um priminho, rs e vice e versa!

Esses dramas de desejo entre familiares são bem complicados porque pesam demais para quem valoriza a família e tem uma forte base familiar, é mais fácil anular tal desejo e canalizá-lo em outra pessoa.

Com relação ao ciúmes, penso que o desejo, em si, tem um toque de possessividade, afinal você acaba tratando o outro como um objeto de desejo que precisa ser "SEU", mas ciúmes demais é doentio e altamente destrutivo.

Sou uma mulher ciumenta, mas o ciúme só ocorre se eu não tenho a mínima atenção da outra parte. Se está tudo bem equilibrado, não há porque sentir ciúmes.

Bjs da sua amiga MADAME!

Pedro Tavares disse...

Não vi esse filme, mas parece bem interessante. Vi que você gosta de filmes de temática gay. Gosta do Gregg Araki?

Um abraço.

PS: Parabéns pelo blog.

Rodrigo Mendes disse...

HUM cheiro de couro? rs!

Brincadeira!!

Obrigado. Nao conhecia este filme.

Vou baixá-lo.

Abs.

Marcio Melo disse...

Me interessei e vou baixar pra assistir!

Celina Pereira disse...

Seus posts sempre me deixam curiosa pra ver o filme. E aí? Você escolhe: me empresta os filmes, ou tira uma cópia pra mim? Hahaha! Eu quero o filme brasileiro do último post! Rs
Ah. Meu blog simplório está mais apresentável. Passa lá pra dar uma olhada. Depois você me ensina como adicionar os Gadgets! :)
Beijo!

Alan Raspante disse...

Eiiita !
Adoro essas histórias polêmicas, é bom, faz a gente refletir, e deixar um 'ar' de novidade no ar, por mais que seja clichê [viajei agora]...
Mas gostei da sinopse do longa ! xD

Juan Moravagine Carneiro disse...

Toda vez que passo por aqui me vejo em busca de mais um filme....rsrs...!


Abraço

Kamila disse...

Cristiano, onde você descobre esses filmes????

Luiz disse...

Oi Cris, adorei ler seu post de um filme mais cult. Parabéns...VoC~e me convenceu a assisti-lo. Abração!!!!

Joyce disse...

opa...me parece bem quente...gosto disso....

menino,vc conhece muito de cinema hein??!! fico boba....

vou baixar,fiquei curiosa...


bjbjbj

ps: adoro este apimentário!!

Mayrant Gallo disse...

Prezado Cristiano, ainda vou postar um texto sobre as indicações de filmes brasileiros que os leitores deixaram no Não leia!, as suas, inclusive. Estive no seu blogue e gostei do que li sobre cinema. Tudo muito bom. Vou voltar sempre. Abraço!

Alyson Santos disse...

Filmes que relatam histórias amorosas tem de monte, mas com a colocação de um irmão na história e assim colocar mais uma polêmica no filme, já deixam as coisas bem mais instigantes.

E todo mundo tem seu ciúme, basta apenas dominá-lo.

Abraços!

Fábio Sousa disse...

ae brother, mals nao passar por aki, tenho andado sumidão da net...
vou baixar esse filme... certeza. estou baixando agora...

te falarei o que achei dele...

E obrigado por passar no meu blog...

forte abraço

Mayara Bastos disse...

Nunca ouvi falar desse filme, que vergonha! rsrs. Depois de seu texto, vou conferir.

Beijos! ;)

Jairo Cerqueira disse...

Vi algo semelhante (guardando proporções) num texto de Nelson Rodrigues.
Um abraço.

Alex Zigar disse...

Parabéns pela resenha!Muito bem elaborada! Uma crítica concisa e inteligente.

Sérgio Medeiros disse...

Saber a pitada certa de ciúme não é uma tarefa fácil...

Fernando disse...

O desafio de um relacionamento é saber passar o momento da paixão ardente para o amor baseado no companheirismo, carinho, amizade etc. Quem disse que isso é fácil. O filme parece abordar esses aspectos importantes de um namoro...

Elton Telles disse...

Belo texto!
Faria o download, mas não entendo patavinas sobre baixar filmes rs. O filme me despertou curiosidade, pois nunca ouvi falar dele e parece ser bem interessante.


abs!

Daniel Carvalho disse...

incesto, lesbianismo e relações destrutivas. vou baixar, cris. rs
relações que se fecham em si mesmas em um círculo que exclui o mundo exterior são para mim um instigante assunto. gostei do seu post. "apimentarei" melhor depois que assistir ao filme. rs

Daniel Carvalho disse...

lesbianismo, incesto e relações destrutivas. vou baixar, cris. rsrs

relações que se fecham em si mesmas em um círculo que exclui o mundo exterior despertam minha curiosidade.

"apimentarei" melhor depois que assistir ao filme.

bjs

Paulo Roberto! disse...

Olá, meu caro, antes de tudo, obrigado pela visita no (Palavras apenas... Palavras pequenas.).

Bom quanto à sua pergunta, bom, em editar HTML e digite ctrl + f e busque a seguinte linha: linkwithin_text='Espero que apreciem a leitura:'. No seu caso não vai estar escrito apreciem a leitura mas é ali que vai colocar o que desejar que fique, aconselho que antes de salvar as alterações, clique em visualizar. Abraços. Espero ter ajudado.

Edson Cacimiro disse...

Vi hoje a tarde e gostei do filme, reparem na obsessão do irmão com a irmã, e da maturidade que a personagem Alex vai mostrando ao longo do filme.
Abraço Cristiano.

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