Malícias sexuais

O amor nasce do orgasmo? Como se sustenta uma relação firmada na dualidade do amor e ódio? A sexualidade determina o destino do ser humano? Afinal, não se pode fugir do amor? Há a ardência à flor da pele, o embasamento da fúria do desejo descontrolado e do sexo torturante no Pecado Original. O filme atiça por conceituar em sua premissa o senso da obscenidade de luxo que ocasiona a luxúria. É requinte de sexo torneado com malícias, delícias de insinuações. O foco pervertido centraliza na história na exótica Cuba de 1880. Luis Antonio Vargas (Antonio Banderas) é um homem bem-sucedido no ramo profissional, um rico negociante de café que busca um casamento arranjado - firma, numa espécie de contrato, os detalhes da união com a desconhecida americana com quem manteve contato através de cartas. Após acertar os detalhes da oficialização matrimonial, eis que sua futura esposa chega. É então que o roteirista e diretor Michael Cristofer aponta a sua ousadia: Julia Russel (Angelina Jolie) é uma mulher altamente bonita, atenciosa e sensual. Logo no primeiro encontro, Luis maravilha-se com a surpresa: não esperava que sua futura mulher fosse tão exuberante. Mas, será que o destino poderia ser tão favorável? Qual segredo esconde Julia? Ela é quem aparenta ser? O roteiro é uma adaptação do romance de Cornell Woolrich "Waltz Into Darkness", que Francois Truffaut já usara em 1969 como base para "A Sereia do Mississipi" (com Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve).

A relação de Julia e Luis é ardente, a aproximação é classificada pela overdose de desejo que ele nutre por ela, tão rapidamente. Em poucos diálogos, mal se conhecem e se casam, ambos tonificam seu ato sexual - numa cena, por sinal, precisamente impactante. A cena de sexo entre os dois é detalhada, forte e quente, no qual o diretor ousa em planos de close para acentuar os corpos dos dois na ebulição da transa. A química entre Jolie e Banderas é bastante visível, voraz. O casal explode em nudez e sintonia sexual em cena - e o teor do erotismo invade a concepção visual e sensorial do filme. E Cristofer não poupa os atores, concebe uma sequência de penetração intensificada de gemidos e de planos detalhados do casal para exercer a atmosfera de thriller-erótico, ainda que haja a noção de elegância e cuidado estético que não fere a sensatez do trabalho. O sexo determina o vigor argumentativo do filme, sendo um elemento primordial que determina os instintos mais primitivos humanístico.

Ainda que Luis esteja perdidamente apaixonado por Julia, nota-se nele uma passionalidade assustadora: não consegue abrir os olhos para a provável impostora, nem para as artimanhas da fêmea que utiliza dos dons sexuais para promover suas manipulações. Mas, a catarse ocorre: Julia foge com todo o dinheiro dele. Quem é essa mulher com um passado tão misterioso? Qual razão de tamanha atrocidade e atos ilícitos? Eis que o desejo e sentimento se transformam no ódio e vingança - então, Luis trata de investir num plano ardiloso para capturar a impostora. Mas, há nele dúvidas: ora não sabe se a mata ou se a deseja de volta. Como um homem tão sensato pôde se envolver tão ingenuamente com uma desconhecida? Bem verdade, Julia exerce um fascínio sexual que subjuga os sentidos racionais do marido - é assim que ela investe sua dissimulação, através da libertinagem e do exalar do seu corpo. A fêmea controla o macho com a determinação do sexo pretensioso? Ela leva-o a experimentar o ápice do orgasmo mas também investe no jogo de dissimulação. As máscaras sempre caem. Então, o passado vem à tona - inclusive um homem surge para se interpor ao casal (Thomas Jane). Banderas personifica com bom desempenho um homem torturado pela paixão avassaladora (ainda que reconheça as falhas da amada, não atenua seu senso de adoração sexual e sentimento); Jolie representa a feminilidade promíscua, uma mulher que utiliza-se de seus atributos físicos para conquistar sua ambição desenfreada, muitas vezes alia-se da maldade para obter seus desejos. A atriz eleva a potencialidade emocional, obscura e sexualizada da personagem.

O filme brinca com a dualidade dos dois personagens, nas reviravoltas constantes do roteiro, intrigas efervescentes e na tensão existente entre desejo, poder, identidade e sensualidade que prefiguram efeito constantemente. O cerne do filme é o jogo de gato-e-rato eivado de sexualidade dos dois protagonistas. Há um calor sufocante, movimentos sombrios libidinosos que se mesclam à paisagem caribenha de Cuba ou aos elementos arquitetônicos emoldurados por uma bela fotografia de Rodrigo Prieto. O diretor parece querer provocar com um visual que capta a sensualidade da tensão dos imprevisíveis protagonistas, do roteiro malicioso e tem um auxílio na discreta trilha sonora de Terence Blanchard. Há muita libido nítida no filme: não só pelas cenas calientes, mas pela maneira como os personagens são personificados com ganância e astúcia pecaminosa - discursam sobre as diferenças entre amor e luxúria e exercem as inconstâncias desses conceitos também. Instigante, sedutor e combinação explosiva que explora/representa os meandros de problemáticas humanas. Um filme que prende atenção pelos dilemas de amor doentio, sexo compulsório e ambientes de mentiras que podem (ou não) indignar próprios sensos morais.

Original Sin (EUA, 2001)
Direção de Rosser Goodman
Roteiro de Michael Cristofer, baseado no livro de Cornell Woolrich
Com Antonio Banderas, Angelina Jolie, Thomas Jane, Joan Pringle, Allison Mackie.

35 opinaram | apimente também!:

Unknown disse...

sempre dando uma passada aqui...

abraços!

Marilia disse...

Nunca vi esse filme, mas depois dessa análise detalhada e apimentada, confesso que ele entrou na lista.

Comecei a seguir o blog!
=D

Franck disse...

Parabéns pela crítica ao filme, vc soube captar todo o envolvimento da película...assistir e recomendo!
Um bom fim de semana!

Clenio disse...

Oi

Apesar da crítica ter metido o pau, eu acho esse filme muito interessante, mesmo porque tem Angelina Jolie, o que nunca é desperdício de celulóide.
As cenas de sexo são quentes na medida certa e não deixa de ser divertido acompanhar as desventuras da personagem de Antonio Banderas que, de sedutor-mor nos filmes de Almodovar, aqui é a presa sexual de uma fêmea fatal...

Abraços
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

Volver um filme disse...

Ótima crítica, seu blog é muito bom!
parabens!

te linkei já!

Mirella Machado disse...

Nunca vi esse também...
Não sei se foi só comigo, mas quando li o começo da crítica achei que luis só desconfiava dela por ela ser bonita, mas depois você explicou e ficou claro que algo existe de incriminador no passado dela, já está na lista pra ver com certeza, quero descobrir o que ela tem agora. Ah, e respondendo sua 1º pergunta eu não creio que o amor possa nascer de orgasmos. Bjos

Rodrigo Mendes disse...

OI Cris,

como disse bem no título da postagem. O filme só tem malícias sexuais e um enredo fraco.

Acho 'A Sereia do Mississipi' do Truffaut formidable!

O filme foi para mim apenas um passatempo de sessão privé.

Com um casal de estrelas como Banderas e Jolie, acho que o diretor poderia ter aparafusado melhor a trama. Só ficou o Banderas parafusando a Jolie? rs!

Abs,
Rodrigo

Mas o filme é pimenta malagueta pelo menos!

Ábia Costa disse...

Oi Cristiano, como estás?

Muito interessante este filme, pena que eu ainda não o vi, mas depois desta análise irei procurá-lo com certeza.

Obrigada por ter visitado e estar seguindo meu blog.

bjus,até a próxima

Dan disse...

hmm. Criticas! bacana... vou ler com tempo. Bem-vindo sempre no blog, volte sempre! abraço

Unknown disse...

O filme de inicio para mim mostra-se manso, rasteiro, uma pessoa que nem conhece a pretendida mas pelo desejo entre um macho e uma femea a aproximação é exata. Com cenas de sexo, de muito amor faz com que o personagem se entregue sem antes conhecer a pessoa. Pelo desejo ardente como nos mesmos podemos intensificar na vida aqui fora.Quaquer um pode subjulgar parecido ao filme, na relação entre homem e mulher. Muitos de nos já fizemos o mesmos ate descobrir o passado da mulher ou pelo jogo de interesse é o que o diretor passa.
Muito bom o filme mesmo por ser antigo mostra a capacidade dos atores e pelo diretor nao polpar esforços nas gravações.

abraço

cleber eldridge disse...

Cristiano, não consegui nem terminar de ver esse filme. O Bandeiras e a Jolie são uma dupla que eu não consigo não detestar. Sorry!

Cristiane Costa disse...

Olá amore amigo,

Saudades dos papos!

Tudo bem?

Pecado Original é um filme libidinoso sim, mas essa libido não quer dizer que é tão boa quanto outras libidos em outros filmes mais bem elaborados.

Nesta época Antonio Bandeiras ainda era atraente antes de se acabar com o casamento com Melanie,rs! E Jolie, esta é o próprio pecado em pessoa, uma mulher cujos olhos sensuais e a beleza provocativa pode ser uma grande cilada, rs!

Eu acho o roteiro mediano porque, se eu pudesse mudá-lo, eu deixaria este tesão do casal mais 'a ser revelado', mais tenso. Por ele ser um desejo escancarado e ter uma Angelina Jolie gulosa e perigosa, o filme apela um pouco mais no seu conteúdo abertamente provocativo e, por isso, perde a chance de ser mais prazeiroso, mais misterioso. Bem, esta é a minha opinião. É um filme que a gente aluga para ver o privé mesmo, como comentando pelo Rô.

Bjs e ótima resenha, mais deliciosa que o filme, rs!

Tania regina Contreiras disse...

Achei interessante a forma como você abre o texto (não vi o filme): o amor nasce do orgasmo?
Aqui pensando que a mesma "porta" que liberta pode aprisionar...E amor definitivamente não aprisiona...
Como sempre, uma crítica atraente.
Beijo,
Tânia

Kamila disse...

A química entre Antonio Banderas e Angelina Jolie, neste filme, é notável, mas a obra em si é uma porcaria. O roteiro mostra que o relacionamento desses dois é pautado e firmado na atração que os une, na paixão, na química, no fato de eles combinarem bem na cama. Fora isso, nada em comum!

Thiago disse...

Quando esse filme passar em algum canal a cabo, vou conferir x] Jolie foda!

bruno knott disse...

Caramba, não consigo absorver tudo isso que você absorve em alguns filmes.

No geral gostei deste mais pelas cenas mais picantes mesmo... ;)

Fernanda Rocha disse...

Ainda não assisti o filme, mas mediante a um relato tão interessante, irei assisti-lo logo,logo.ahaushaushauhs...

Ps: Muito massa seu blog. BJOS!!

Vitor Silos disse...

filme bem sensual!

barulhos disse...

Ótima crítica. Todas as outras que vi deram-me vontade de ver o filme.

Sempre passarei por aqui para colher mais dicas de filmes.

Abraços

seguirei você!

barulhos disse...

Ótima crítica. Todas as outras que vi deram-me vontade de ver o filme.

Sempre passarei por aqui para colher mais dicas de filmes.

Abraços

seguirei você!

Tiago Britto disse...

Ahhh amo a cena da Jolie nesse filme..Advinha qual? Ave maria! Linda demais iuahaiuhauihua

Anônimo disse...

Um show de sensualidade por parte de Jolie, Banderas e Thomas Jane!!!!

http://mini-critic.blogspot.com/

TH disse...

Esse sim, diferente de outros filmes já comentados por ti, eu já vi e posso falar! rs
Uma das duplas mais interessantes do cinema - sexies e talentosos - e captaram com propriedade toda intenção do diretor, compondo muito bem o jogo psiquico-sexual que envolvia seus personagens. Eles proliferavam libido e paixão, e visualmente, na tela, foram muito interessantes, aliado à ótima fotografia.
Adorei...

Luis Galvão disse...

Adoro A Sereia do Mississipi, mas não tinha ouvido falar desse, mesmo com um elenco interessante.

M. disse...

É Cristiano eu andava meio sumida mesmo! Ler seus textos no "Apimentário" é um grande prazer, pois são inteligentemente escritos. Eu já vi esse filme há tanto tempo, creio que foi na época da estreia dele no cinema. Das minhas memórias lembro-me que ele tinha mais sex appeal que um conteúdo mais consistente como roteiro. Ah desejo vê-lo de novo após esta leitura. Um abraço.

Alan Raspante disse...

Não é um filme que me interessa muito, mesmo gostando de thriller erótico, rs
òtima resenha!

Movie Lover disse...

Parabéns mais uma vez pela critica ... muito boa.
Ainda não vi este filme mas irei vê-lo brevemente e voltarei aqui para comentar :)

Abraço.
http://vidadosmeusfilmes.blogspot.com/

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

sensualidade pura este filme ... adorável mesmo ...

bjux

;-)

Unknown disse...

Eu não curto o Antonio Bandeiras, mas amo a Jolie. A sua análise, no entanto, aguçou a minha curiosidade e vou criar uma lista, a partir do seu blog, para anotar os filmes a serem vistos. A propósito, o enredo se passa na década de 1980, mas quando o filme foi produzido?
Parabéns.

Wagner disse...

Perfeito! Quando eu vi Pecado Original eu era bem mais novo, então o filme ainda foi super mais impactante do que para os espectadores de modo geral! Ow,vc escreve muito bem, parabéns! Abraços!

Gabriel Azevedo disse...

Hey! Obrigado pelo comentário no meu blog. Estava dando uma olhada no seu, adorei ele. Tem inúmeros filmes que eu nem sequer tinha ouvido falar. Também estou seguindo.

PS: Te mandei um e-mail pelo blog.

.Luks disse...

ótimo post, escrito de umas forma muito boa.
Parabéns pela crítica!

Abraço forte!

Gabriel Von Borell disse...

Estou aqui pra agradecer o comentário lá no blog e dizer que estou de volta após meses inativo ! Vi esse filme anos atrás ! Gostei !
Abraços .

Abraão Vitoriano disse...

é um filme maravilhoso
e estimulante!

Tambem estou cá pra te convidar para a blogagem coletiva: “Tempos de criança”, em virtude do aniversário de dois anos do meu blog. A intenção é narrar livremente imagens, memórias e impressões da infância, e no quanto isso foi importante para sua vida. Pode ser em poema ou prosa, como preferir...
Quero comemorar em grande estilo com a participação de todos no dia 16 de Julho (sexta-feira) a partir das 9h00 da manhã. Muito obrigado, e espero sua confirmação até quinta para expor na minha página os endereços dos respectivos blogs integrantes.

Abraços e beijos,
Do menino-homem

açúcar disse...

haaa açúcar.. eu sou doida por uma cena em especial desse filme... e você sabe qual é! rsrs
concordo com você no que diz respeito às malícias sexuais.. o filme é inteirinho feito delas.

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