Sexo sem compromisso

Por que o sexo casual é algo tão evidente na sociedade atual? O que torna o sexo mais prazeroso entre seres humanos desconhecidos? É compreensível a necessidade de a cinematografia tentar desvendar as situações que envolvem as relações da humanidade através da sexualidade, do envolvimento casual sem amarras e do instinto libidinal que faz com que a concepção de sentimento seja algo secundário. Várias abordagens já souberam explorar posicionamentos sobre relações que se desenvolvem através de transas aparentemente efêmeras ou mesmo o “sexo de uma noite” que acaba por provocar um sentimento gradual afetando essa relação que demonstrava se restringir ao coito, ao prazer imoderado. Baseado no “Entre Sabanas” do mesmo diretor colombiano Gustavo Nieto Roa, Entre Lençóis é uma tentativa frustrada de mostrar o encontro de dois indivíduos em busca de sexo num motel qualquer. Este frágil longa-metragem tem semelhanças nítidas com duas produções estrangeiras, “Um Quarto em Roma” de Julio Medem (que coloca duas mulheres lésbicas perdidamente fascinadas pelo sexo num quarto luxuoso) e “Na Cama”, produção chilena de Matias Bize. Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira personificam o típico casal que se conhece por acaso numa noite qualquer — uma boate no coração boêmio do Rio de Janeiro —, e logo partem para um encontro íntimo num motel em busca de sexo. E é dentro desse ambiente que a narrativa se desenvolve.

Todo articulado dentro do mesmo local, o filme mostra o encontro explosivo da libido deste casal. Roberto e Paula, ambos comprometidos e com vidas tão díspares. Ele, recém abalado por uma relação problemática com a esposa que vive há três anos. Ela, prestes a se casar com o homem aparentemente ideal. Logo no início, é visível a intenção do roteiro Renê Belmonte (Se Eu Fosse Você, Sexo com Amor?): apresentar essa condição sexual de ambos. Hormônios em ebulição, beijos calorosos, logo uma transa dotada de sensualidade, o casal não se preocupa em esconder a intenção maliciosa nos primeiros minutos do filme. Talvez aí resida o apelo da produção, já que traz os globais Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira despidos e em apelos mais libidinais, corpos nus e momentos onde a câmera pareça só se preocupar em destacar cada detalhe da beleza física desses dois atores.

Logo após o frisson inicial, o roteiro parte para a “busca da intimidade verborrágica” do casal. Concentram-se aí as fragilidades expostas, os anseios, cada um dialogando sobre suas vidas, é a forma de apresentar um pouco desses personagens ao público. Percebe-se que Roberto e Paula sustentam uma vida de insatisfações e logo demonstram que o ardor carnal é apenas o ponto de partida para um divã entre quatro paredes, sob as fronhas, dentro do quarto que é o terreno onde acabam por se descobrir e se relacionar. Mas, não pense que, ainda que com uma intenção interessante, o filme saiba se sustentar. Pelo contrário, após os vinte minutos iniciais, promovem-se aí diálogos bastante medíocres e que — além de não causar reflexões maiores ou que se aprofunde mais no caráter/personalidade de cada um deles — soam artificiais ao extremo. Visivelmente, o roteiro peca pelo excesso de tons exagerados e até na maneira um tanto precipitada que coloca o casal do sexo-tórrido ao devaneio-amoroso.

Ironicamente, faltam sensualidade e ousadia na estética da sexualidade imagética do filme. Ainda que os atores apareçam despidos e as cenas de beijo e transas sejam efetivas, visivelmente a direção de Gustavo Nieto Roa aborrece o público que procura algo mais fetichista, agressivo e que tenha um tom mais realista. Ora, se os atores aceitam expor o corpo de forma tão intensa e até apelativa, por que se privar em mostrar algo mais provocativo visualmente? A câmera percorre, mas aparenta receios. De tudo isso, destaca-se as discussões sobre carências eternas da humanidade, a forma como todo ser humano idealiza no desconhecido não só o sexo mais prazeroso como o sentimento mais perfeito, além de indagações sobre questões que envolvem fidelidade e sensos de sinceridade e sentidos da vida — mas esses elementos não tornam o aspecto cênico mais cativante.

A direção é apática e não tem coragem em expor o casal em algo mais libidinal, ou seja, falta “coreografia” nas cenas de sexo, tudo acaba sendo bem falso, sem pimenta e recatado. A sensação é de perceber cenas de sexo mecânicas, ensaiadas. Você enxerga que os atores ali se movimentam sem uma liberdade mais instintiva sexualmente. Há sequências isoladas que poderiam funcionar, mas são intragáveis, como, por exemplo, o momento onde Paula decide fazer um strip-tease pra Roberto — a intenção de proporcionar uma sensualidade escorre pelo ralo, o tom de humor é visível e a cena gera um desconforto. Até a primeira transa dos dois fragiliza mais ainda a noção de sensualidade, portanto a película nem deve ser classificada como soft-porn, seria mais fácil dizer que é um “filme assexuado”, sem erotismo.

A sensação é que o roteiro também é uma barreira, já que os diálogos não são equilibrados e enfraquecem o interesse do público da metade ao final. Há cenas que ambos os atores convencem, há uma química bem concreta, mas a artificialidade do roteiro faz com que o resultado seja bem comprometedor. Diálogos pobres, frases de efeito e excessos de closes nos atores são artifícios constantes. Problemas de direção são somados a uma péssima edição, fotografia e uma trilha sonora que manifesta um tom amador a tudo. O aspecto televisivo é visível. Infelizmente, o que poderia render uma jornada ao microcosmo da sexualidade, termina sendo um filme perecível e constrangedor.

Entre Lençóis (BRA, 2009)
Direção de Gustavo Nieto Roa
Roteiro de Renê Belmonte
Com Reynaldo Gianecchini, Paola Oliveira

20 opinaram | apimente também!:

Ccine disse...

Quando foi lançado esse filme não tive a menor vontade de ver.
Não gosto do trabalho de Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira em nada, por isso e também pelas críticas negativas, deixei de lado o longa.
Depois de seu texto, o interesse minimo que existia acabou de vez. rs.
Ótimo texto.

Fábio Henrique Carmo disse...

Só tenho vontade de ver esse filme para ver a Paola Oliveira pelada...Acho que deve ser a única coisa que se aproveite. Abraço!

Equipe Cinema Detalhado disse...

O filme realmente é bem fraquinho...muito mesmo, mas vale pela Paola...Linda rs

Gabriel Neves disse...

Um ótimo texto de um filme que eu vou passar bem longe. Eu, querendo ou não, tenho certo preconceito com alguns atores globais e não tenho motivo algum para ver Entre Lençóis.
Abração!

Amanda Aouad disse...

Não é dos melhores mesmo, relutei em vê-lo, mas um dia o peguei começando em um TeleCine desses e acompanhei a saga insossa. O que incomoda é o filme não se decidir no tom, romance, sensualidade, drama existencial?

bjs

J. BRUNO disse...

Por mais ousado que possa parecer o filme parece que acaba caindo em clichês né (ao menos foi o que entendi ao ler sua resenha), o homem saindo de um casamento frustrado e a mulher que questiona seu próprio ideal de vida conjugal são dois tipos de personagens já bem manjados... Engraçado também é que a decisão de não explorar melhor as cenas de sexo soa careta em um filme que faz pose de ousado...

Anônimo disse...

Concordo em gênero, número e grau. :'D

Bruno Etílico disse...

Sempre tenho mimimi pra ver um filme brasileiro que não seja de coméria boba e fácil como uns de grande sucesso...
Parece que sua crítica enfatiza o meu preconceito rs

bju

Kamila disse...

Eu nunca assisti a este filme e tenho muita vergonha pelos atores envolvidos. Sempre que vejo alguma coisa relacionada a ele penso se tratar de um grande novelão, de situações caricaturais e de um roteiro muito fraco.

Kamila disse...

Eu nunca assisti a este filme e tenho muita vergonha pelos atores envolvidos. Sempre que vejo alguma coisa relacionada a ele penso se tratar de um grande novelão, de situações caricaturais e de um roteiro muito fraco.

Sintia Piol disse...

Adorei o texto, Cris. Está muito bom mesmo. Adoro filmes libidinosos, acho Gianecchini um fofo, a Paola, é bellíssima, mas pelo jeito esse filme passa longe de ser assistível. Obrigada pela dica, porque estes meus olhinhos correrão dessa obra tão pouco bem comentada. Estou em uma fase muito seletiva ai não dá pra perder tempo vendo filme sem condimento.

Ps.: adorei os comentários de Fábio e do Cinema Detalhado, cheios de boas intenções com a Paola. Como o povo diz uma conhecida minha: homem é isso! rssss

Mirella Machado disse...

Apesar de não ter visto tantos filmes assim, mas já acho meio batido esse enredo de sexo casual entre um casal que no fim vai se apaixonar, mas enfim confio mesmo no que você disse, está me parecendo que esse filme não agrada muito ao olhar e nem nos diálogos, certo?! O interessante é saber que filmes assim seriam muito polêmicos a uns 40 anos atrás e agora caem nessa mesmice e ficam meio fracos.

Alysson disse...

O filme em si tem a história fraca e mais parece um filme da tv globo, mas vale a pena ser visto só pelas cenas sensuais e sem roupa dos protagonistas que esbanjam boa forma! Eu gostaria de fazer parceria com o blog de vcs? o que me dizes? visite meu blog: htpp://umcinefiloemjampa.blogspot.com

Cibele Chacon disse...

Esse filme realmente poderia ter ousado, mostrando a essa sociedade pudica que o sexo casual não é algo condenável, e sim uma escolha. Um momento.

O problema é que o roteiro vazio torna a história praticamente inexistente. Uma sucessão de cenas sem amarras e com atuações medíocres.

Sei que o filme tenta provocar pela sensualidade e sexualidade, mas isso não justifica a falta de diálogos consistentes.

Em resumo: ZZZzzzzzzzzz... sono!

Cibele Chacon disse...

Esse filme realmente poderia ter ousado, mostrando a essa sociedade pudica que o sexo casual não é algo condenável, e sim uma escolha. Um momento.

O problema é que o roteiro vazio torna a história praticamente inexistente. Uma sucessão de cenas sem amarras e com atuações medíocres.

Sei que o filme tenta provocar pela sensualidade e sexualidade, mas isso não justifica a falta de diálogos consistentes.

Em resumo: ZZZzzzzzzzzz... sono!

Otávio Almeida disse...

Hahahahahaha, concordo com o Fabio Henrique. Paola Oliveira pelada! E já!

Júlio Pereira disse...

Rapaz, você tira do sub-mundo do Cinema cada produção... hahahaha
Brincadeira... Mas, sério, nunca tinha ouvido falar nesse filme, e não fiquei nem um pouco interesse. Muito bem articulada sua resenha! Porém, como disseram algumas amigos acima, Paola Oliveira pelada é tudo.

Relacionado a introdução, com seus questionamentos, vale lembrar de uma passagem incrível do longa "Nova York, Eu Te Amo", que é o sexo sem compromisso, sem saber o nome da pessoa, nem nada. Não por um acaso, é uma das mais bacanas do filme. Outro também que vale citar é o primoroso e perfeito "Último Tango em Paris", do Bertolucci, que, embora essa análise apenas, ficaria rasa, é um dos pontos debatidos por esta preciosidade cinematográfica!

Rodrigo Mendes disse...

Oi Cris,
estava sumido agora que estou comentando aqui não reclame mais e apareça no meu blog, rs!

Bom, li seu texto, está ótimo e também acho "Entre Lençóis" muito ruim, aliás, é uma droga. Verborrágico, exagerado e chatíssimo.

Eu até gosto de filmes em um único lugar ou que a trama se passe boa parte em um ambiente, desde que o roteiro seja entorpecente, encontrando boas saídas.

Há exemplos de filmes onde o texto envolve o espectador, no caso "Closer - Perto Demais" é uma pequena obra-prima onde as personagens não "fazem sexo" literalmente em cena, mas falam de seus anseios, etc. O erro desta fita é não cativar no texto. Muito sem graça. E mesmo as cenas “engraçadinhas” e apimentadas são bastante piegas, enfim, um filme que não consegue ser criativo e é de fato constrangedor.

Até gosto do Gianecchini (claro que ele fez escolhas erradas no cinema), mas a Paola nunca me desceu, sei lá, meio inexpressiva mesmo. Espero que ela melhore.

Uma pena mesmo que o filme seja fraco, tem um ótimo assunto para tratar: a sociedade pós-moderna e o sexo casual. Tema mais conturbado e sombrio em filmes como o recente "Shame", este sim é uma excelente fita.
Abraço.

Sandra Cristina de Carvalho disse...

Ótimo texto, Cris. Mesmo não tendo assistido ao filme, lendo sua resenha, não dá vontade mesmo de assistí-lo. srsr
Quanto aos atores, até gosto dos dois, acho que cresceram com o exercício da arte. Mas se o roteiro é insosso, talvez só me arriscaria em assistí-lo, por curiosidade.
Adorei seu 'retrato-narrado' do filme. srsr
Beijos.

Eliel disse...

É um dos piores filmes que já vi. A reação comum é a sonolência. Artificial e sem nexo, creio que o maior interesse que o espectador pode ter é ver escapar na tela, alguma parte íntima do corpo dos atores. Deveria passar no Cine Madrugada da Band. É como um filme da série "Emanuelle", só que ainda menos excitante.

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