Violência Reflexiva?

A Outra História Americana é um soco no estômago, um registro ácido, externa a discussão realista dos dilemas da violência racista e de como essa influência cai sobre uma família de classe média dos EUA. Utilizando-se de um contundente argumento, embasado no estudo sobre o racismo e de como ele resulta da formação do ambiente que pertecem os indivíduos, o roteirista David McKenna concretiza sua problemática: Derek (Edward Norton) enfrenta o trauma de ter seu pai assassinado em um bairro negro. Inconformado pelo brutal crime, ele busca vingança e é motivado pela fúria do ódio que o consome. Torna-se, assim, líder de um movimento de supremacia branca: ativista, busca na idelogia nazista a sua filosofia de vida, crê na "raça pura" e que é necessário varrer os "parasitas" de seu contexto comunitário. Quão cruel pode ser um jovem que decide exterminar todos que não sejam brancos? Derek controla o bairro, tem inúmeros adeptos e seguidores, é tido como herói. Assim, sua deliquência atinge à massa e organiza constantes movimentos de violência no território. Quando seu carro é assaltado por negros, Derek despeja toda a sua fúria ideológica, mata brutalmente os indivíduos e acaba condenado a três anos de detenção. É então que o filme exerce seu princípio central: Derek, após cumprir sua pena, arrepende-se de seu maldoso legado e percebe que deve salvar seu irmão Danny (Edward Furlong) que segue o mesmo caminho. Haveria possibilidade de mudar o destino?

O ponto polêmico no filme não é somente a expressão do conceito de racismo, do ódio recíproco de negros e brancos, algo tão banalizado e comum na cultura social norte-americana - mas, na maneira como mostra um skinhead que entra em processo de reflexão, reabilitação de sua existência. Será útil permanecer imerso em uma trajetória marcada por atos de vandalismo, agressão e tanto ódio incoerente? Qual sentido da violência exarcerbada? Observa-se em Derek uma consequência de influência paterna: seu pai semeou idéias de separatividade racial no seio familiar, fez que ele acreditasse que o conflito era necessário. Após a morte do pai, Derek passou a viver em função do seu ódio e preconceito pelas minorias (latinos, negros e judeus) e sua vida resumia-se a discordia familiar, intolerância contra as pessoas que se opunham às suas opiniões - ele provocava, agredia fisicamente e verbalmente a todos, comanda ações de depredação e espancamentos incisivos. Mas, após o período que passa preso, nota-se uma transfiguração psico-comportamental: Derek passa a refletir seus atos, observa que tudo não passava de uma insanidade. Seria, apenas, vazão para suas agruras? De fato, após o período que viveu na cadeia - em contato com diferentes pessoas de etnias opostas, conflitos generalizados por brigas entre presos - passa a reaver seus conceitos internos, amadurece e procura a razão para ter entrando num mundo pautado em ira descabida, ódio e preconceito. Existe nele a reforma existencial pois arrepende-se de tudo, de suas incoerentes ideologias e tenta recuperar o tempo perdido. Existe um homem envergonhado que tenta reestabelecer sua integridade moral, humana e não vê mais ódio como honra. Como retratar-se perante aos outros - como consertar os erros do passado? Toda a família dele foi destroçada: mãe, irmãos...ele próprio.

A abordagem é crua e impressiona em abordar os tormentos, estilos e detalhes do neofascismo. Há uma tribo urbana, não só Derek, que representa todo o perfil de skinheads racistas, vandalistas, anti-semitas, xenófobos, supremacistas, hitleristas e, em sua maioria, jovens de classe operária. E o diretor Tony Kaye tem o cuidado em explorar esse quadro real que se manifesta - a violência adotada é executada com atenção, ainda que provoque choque em certas cenas tamanho senso de angústia. A cena que Derek expõe seu fascínio absurdo e racismo bruto violento contra dois negros, matando-os, tem requintes de crueldade e é assustadora - ainda mais pela densa composição da atuação de Edward Norton. Impressiona, assombra e hipnotiza. Há cenas de vandalismo, diálogos ferinos profanados pelo personagem Derek (muitos mostram sua ideologia neonazista, insensibilidade agonizante) e situações que mexem pelo tom agressivo, mas necessário. Cenas que demonstram como irracionam tornam-se indivíduos que se permitem ao racismo, ao ódio que concebe a cegueira e os deixam sucetíveis à violência desenfreadas contra seres humanos. Derek simboliza este ser que incita as minorias, alia-se de sua inteligência para comandar uma organização e atua com violência. Derek se despe de seus preconceitos quando vivencia os tormentos no cárcere. É estuprado por homens, hostilizado por companheiros neonazistas e se aproxima de um negro que divide as tarefas diárias com ele - aos poucos, cria-se vínculos de amizades com ambos, ironias do destino? A maturidade de Derek ocorre devido ao sofrimento, as dores que vivencia, a reflexão é resultante do processo de angústia que sente. A violência sexual que ele sofre ocasiona mudanças íntimas. Regenera-se, surpreendentemente. Os erros de hoje, pode ser a destruição de quem ama no futuro? Inconformado com o destino que seu irmão segue, ele luta para salvá-lo. Eis um filme traz em seu escopo recortes de racismo, preconceito, violência e, também, amadurecimento; transformação humana. É uma amostra de um homem que renasce e luta para tentar corrigir uma vida quase perdida. Derek aprende as dificuldades do próprio mundo ao tentar livrar Danny do legado da intolerância que ajudou a criar. Reajustar a inconsequência que apregoava é uma complexa trajetória íntima e externa.

A direção é minimalista, auxiliada por uma fotografia primorosa (também de Kaye) com planos-sequência em preto e branco que mostra as cenas em flashback das digressões dos personagens. Alternam-se os flashs com o tempo real do filme, numa montagem que flui bastante. A trilha sonora de Anne Dudley é melodramática com teores de suspense. Todo o filme é pontuado pela narração intimista e reflexiva de Edward Furlong, numa atuação bastante emocional e intensa. O potencial dramático atinge o ápice nas cenas compostas por Norton e Furlong, funcionam como personificadores humanos repletos de fragilidades e conflitos. Transpassam emoção de maneira genuína, tangível. A transformação radical executada por Derek é marcada por cada nuance psicológica, olhares e tônicas comportamentais concebidas por Norton. O roteiro é um convite à reflexão os atos de discórdias, preconceitos e intolerâncias que ainda se mantêm incrustados socialmente. É este sentimento que move a humanidade? Decerto, são atos que levam à auto-destruição, à discordia, a perca da própria identidade. Eis um convite à repensar a natureza humana, às consequências do ódio nas vidas de cada um. Há dores que jamais são dissipadas, ainda que os erros sejam perdoados. O sofrimento deixa marcas tão difíceis de apagar quanto a imensa suástica tatuada no peito de seu protagonista. Um sólido trabalho cinematográfico, obra-prima irrepreensível.

American History X (EUA, 1998)
Direção de Tony Kaye
Roteiro de David Mckenna
Com Edward Norton, Edward Furlong, Beverly D'Angelo, Jennifer Lien, Ethan Suplee, Fairuza Balk

42 opinaram | apimente também!:

Mirella Machado disse...

Sua resenha está magnífica seria a palavra. Pra ser sincera se fosse pra escolher alguns dos textos ótimos esse estaria lá.

Já vi esse filme, mas faz tanto tempo que não lembro de muitas cenas e pra dizer a verdade nem muito a história eu lembrava. Edward Norton é um ótimo ator ele parece se entregar mesmo ao personagem e isso deixa o filme melhor do que já era. Ótima crítica mesmo. bjos

LuEs disse...

Eu realmente acho que American History X é um filme muito intenso. Não apenas pelas excelentes atuações e pela direção correta de Tony Kaye, mas principalmente pela abordagem da história. Condoro com o que você disse a respeito do processo de questionamento e reabilitação do personagem central, mas, para mim, o ápice do filme são os argumentos usados por ele ao longo de sua trajetória como neonazista: mesmo nós, que sabemos a importância de uma política antirracista, tormano-nos mudos diante das informações bastante exatas e fatídicas que Derek apresenta. GOsto em especial da cena em que ele e a família almoçam e ele começa a discutir com o namorado da mãe. Fiquei extasiado com tudo o que ele diz, fiquei mesmo! Não há como negar aquilo e essa impossibilidade de negação faz com que nós assussamos o lado do personagem central, mesmo conscientes de que o que ele faz seja ruim.
Desse modo, creio que o grande mérito do filme é perturbar o espectador. Ele muda o nosso foco de pensamentos e, por um instante, instaura em nós uma consciência tão rebelde quanto a do personagem, que lida com o dilema: que fazer quando estranhos vêm destruir o que é seu?.
A indicação que Edward Norton recebeu é mesmo justificável, dada a composição muito intensa do trabalho desse ator.

Parabéns pela resenha.
;D/

pseudo-autor disse...

Esse foi o último trabalho de qualidade que eu vi o Edward Norton fazer...Daqui em diante ele só se envolveu me produções meia-boca. Onde foi parar esse grande artista, que havia chamado minha atenção em As Duas faces do crime?

Cultura na veia:
http://culturaexmachina.blogspot.com

cleber eldridge disse...

Eu mereço um soco também, por não ter visto o filme ainda. ;(

Elton Telles disse...

mas que bela surpresa! Eu vi "American History X" ainda quando era muito novo. Tinha uns 9 anos e nem bagagem para compreender todo o filme eu tinha - lembro apenas das passagens mais marcantes. E, claro, da estarrecedora atuação de Edward Norton, fabuloso!

Valeu pela lembrança no blog. E valeu por me lembrar que tenho de assistir esse (grande) filme.


abs, Cris!

Serginho Tavares disse...

Edward Norton está um absurdo de bom neste filme. Merecia o Oscar

Dan disse...

esse eu já vi. Realmente uma obra prima. Edward Norton está mto bem.
Boa dica rapaz! abraço

Alex Zigar disse...

Ótima resenha. Uma análise precisa do filme, que é, sem dúvida, como foi citado: uma obra prima.

Abraços!

Lua Nova disse...

Você fala tão bem que dá água na boca pra assistir o filme. Mas esse eu não tenho coragem. Detesto filmes de preconceito e, juro, não tenho condições de assistir às cenas de violência geradas por esse motivo.
O preconceito é algo inaceitável e pra mim, inassistível...
Dessa vez, eu passo...
Beijos.

Anônimo disse...

Cris:

Parabéns pela análise. De início já, o título, brilhante, faz pensar: "violência reflexiva?" Ou seja, a violência é reflexo de algo ou é algo nato? E além disso, pode uma película retratar e ao mesmo tempo fazer pensar a respeito? Qual a validade de se explorar de maneira tão crua como a relatada assuntos como este? Sobretudo se pensarmos que o nazismo é "neo", ou seja renovado, está presente na sociedade. Lembrei do filme "Clube da Luta", cuja violência filmada gerou atos violentos fora da ficção e gerou polêmica. A discussão segue, portanto: violência em nós se reflete ou faz refletir?

Kamila disse...

Este filme, realmente, é um soco no estômago total. Uma obra muito difícil, que fala sobre intransigência e intolerância e sobre como, ao ser vítima das mesmas coisas, Derek repensa tudo aquilo que fez e tenta ajudar o irmão caçula. A cena do crime que leva Derek à prisão, até hoje, me causa calafrios. Uma DEVASTADORA performance de meu ator favorito, Edward Norton.

Bruno Cunha disse...

Um grande filme recheado de valores morais e com grandes interpretações.

Abraço
Cinema as my World

Marcio Melo disse...

É mesmo um trabalho emblemático de Norton e que de certa forma ficou, para mim, como ponto de referência quando comento sobre filmes com a temática do racismo.

leo disse...

Acho soco no estômago pra esse filme é pouco,acho um puta soco no estômago super necessário !
Filmaço onde Edward Norton tem uma das melhores performances da história do cinema (sem humildade) e Edward Furlong também tem uma participação digníssima.
Texto incrível pra variar né !

Thiago Quintella de Mattos disse...

Estupenda análise, como poucos, inclusive os ditos especialistas, fazem. Tenho alguns pontos também para comentar, outros pontos que vi nesse filme. Aliás, deu até vontade de ver de novo baseado na sua perpectiva.
Edward Norton é, indubitavelmente, um dos meulhores atores contenporâneos. Deixo uma dica, caso não tenha visto, procure o filme, Leaves of Grass, em que Norton interpreta gêmeos e... ah Cristiano, veja!
Grande abraço!

M. disse...

Realmente é um filme forte. Não vi ainda. Um abraço e ótimo fim de semana.

Unknown disse...

Ainda nao vi o filme, mas pelos aceites por aqui parece ser uma otima obra, pela resenha como sempre perfeita demonstra como é ao ver o filme...

abraços

Edson Cacimiro disse...

Enraçado que eu tenho o cd com a trilha sonora mas não vi o filme ainda.. valeu pela dica.

Vitor Silos disse...

Muito tempo que ví esse filme, tai um filme que tenho que rever, mas lembro de ter achado muito forte e tenso, um ótimo filme!

Vitor Silos
www.volverumfilme.blogspot.com

Dr Johnny Strangelove disse...

Um clássico sem dúvida. E lembrar que vi na época foi mais pedrada do que nunca. É aquele tipo de filme que devemos guardar em nossas mentes não só como apenas uma reflexão duma sociedade deturpada, mas sim um filme que consegue alcançar a todos deixando o próprio espectador sem respirar ao seu termino.

Abraços

Marcos Eduardo Nascimento disse...

Filme primoroso e que revela uma "america nada esquecida". Infelizmente, um assunto que ainda persiste em existir. Quem nao viu, nao sabe o que está perdendo!

Cris, off-post. Gostaria de sugerir a critica sobre Entre dois amores. Na minha opiniao, um dos melhores trabalhos de Meryl Streep.

Aguardo resposta. Abraços.

Hugo disse...

Esta entre os melhores sobre o tema racismo já feitos e provavelmente o mais polêmico.

A curiosidade do filme é sobre o diretor Tony Kaye. Na época houve uma grande briga entre ele e os produtores que queriam cortar cenas do filme, minimizando a violência e os diálogos, porém Tony Kaye não aceitou e levou a briga para justiça, conseguindo lançar o filme que ele imaginava No final Kaye pagou um preço alto, apenas em 2009 teve a chance de dirigiu outro longa.

Grande atuação de Norton.

Abraço

Hugo de Oliveira disse...

Muito bom esse filme...já assistir.
Ótima descrição você fez.


abraços
de luz e paz

Hugo

Anônimo disse...

Eis um grande filme.
De fato, Norton está avassalador.

Abraços e seguindo.

Gean Carlos disse...

Eu vou procurar esse filme, já o havia visto na prateeira da locadora, mas nunca me dei o trabalho de vê-lo; e se for como "Clube da Luta' deve valer a pena!

ótima resenha.

Lu Dantas disse...

Esse filme é realmente demais!

Bjs

Jorge Pimenta disse...

cristiano, venho aqui saudar-te e curiosamente numa postagem sobre um filme que me marcou especialmente. ler-te deu-me uma imensa vontade de o rever. cá em portugal, as questões de fundo estão, hoje, bem em voga, infelizmente.
um forte abraço!

sérgio disse...

Obrigado pela visita!
Gostei do seu texto, êle tem o mesmo foco que senti qdo vi o filme. Preconceitos, intolerância e a visão egóica de raça, etc... separa os homens, destruindo o ideal de igualdade, da grande família que somos como Humanidade!
Abração!
PS. Adoro filme e cinema tb.

Tiago Britto disse...

Muito bom o texto...este é um filme que não sei como não tinha apreciado antes...é um dos melhores que eu já vi...muito bem trabalhado e Norton está dando um show!

abs

JB disse...

Excelente resenha, meu caro. American History X é talvez um dos filmes top 10 da minha vida. A reflexão acerca da possibilidade de transformação de um homem e o contexto apresentado no filme são brutais, reais.
Atuação brilhante do Norton, sem dúvidas.

Abração!

Luiza disse...

O filme é muito bom e o seu blog é mil... te sigo a partir de hoje com prazer...
Lindo começinho de agosto para ti...
Beijoooo

Tiago Fagner disse...

Eu vi o filme. É como você falou "um soco no estômago", me senti mal depois de ver, como me sinto todo dia quando observo o emaranhado de preconceitos que é a nossa sociedade. É forte vale ver e valeu rapaz por lembrá-lo aqui, certos assuntos não podemos esquecer.
Abraço!

Anônimo disse...

Esse violência não é muito distante. Não falo da supremacia do ódio branco sobre o negro, mas do inverso, que também existe.

Você sumiu do meu blog, rapaz! :/
Volta lá quando puder.

Beijos, até! ;)

Wally disse...

Esse filme é mesmo muito marcante - ousadia, desafiador, diria eu - e traz a que talvez seja a melhor atuação de Edward Norton.

Luís Paz disse...

Uaw,quero ter o teu talento de expressão um dia *-*

Ana Luísa disse...

Nossa, esse é o melhor blog sobre filmes que eu já li!
Amei!
Eu nunca vi esse filme, mas parece realmente bom!
Beijos

João Sobreira disse...

Cristiano, muito obrigado por suas palavras no meu blog! Gostei bastante desse espaço em que filmes que podem suscitar ricos debates são comentados e apresentados de forma tão bacana por você e seus amigos. Voltarei aqui mais vezes, sem dúvida.
Abraço.

Gustavo Paiva disse...

Wow! Sua resenha me deixou com uma vontade doida de ver! Intensidade pura. Que pena ainda não ter visto. Vou procurar...
Aliás, voltarei aqui mais vezes pra apimentar um pouco mais. To seguindo!

História é Pop! disse...

Foi o primeiro filme que assisti com o Edward Norton e virei fã de cara. A forma como a história é narrada e a atuação de todo elenco, especialmente da Fairuza é de primeira. Mas a grande sacada do filme é a inversão do preconceito e a luta pra conseguir tanto sair da gangue de skinhead, quanto pra tirar seu irmão do mesmo caminho percorrido por ele anteriormente. Um tapa na cara da sociedade, esteja ela de qualquer "lado".

Jardel Nunes disse...

Esse é o melhor filme sobre o tema, com ceteza. E além de um bom elenco, tem uma atuação fantástica do Edward Norton. Só não digo que o grande papel de sua carreira por cauda do Clube da Luta.

Abraços

Anônimo disse...

Um filme de ótima qualidade. Realmente um soco no estômago. Forte, violento, real.
Já que não assiti Clube da Luta, posso dizer que, na minha opinião, foi o grande papel de Norton.

Renato Cinefilo disse...

Esse filme é um dos meus prediletos. A redenção do ser humano e um final angustiante e sofrido. Adoro esse filme.

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