Não existe certeza absoluta. O que concretiza uma verdade? Uma mentira pode consistir em veracidade incondicional? Qual preceito da moral e religião? No filme Dúvida: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Amy Adams determinam a verdade inexorável em rigidez, o carisma posto em dignidade e inocência passional, respectivamente. A adaptação premiada do dramaturgo John Patrick Shanley - que, além da autoria, também escreve e dirige a película - debate intensamente os limites humanos: moralidade versus rigidez, verdade versus mentira, razão versus emoção. O trio central conceitua a problemática: o padre Flynn é posto em desconfiança pela irmã Aloysius que, induzida por uma suspeita da irmã James, passa a acreditar plenamente no seu envolvimento íntimo, secreto e sexual com um aluno negro. O roteiro propõe a polêmica: O que consiste uma percepção? Toda desconfiança há de ser acatada? Diante de nenhuma evidência concreta, como se sustenta uma verdade? O que é verdade? Tudo no fime é avassalador e denso: as atuações são ásperas, cruas e soberbas. Os diálogos, altamente questionadores e realistas, devastam aspectos de fraquezas e mistérios humanos, a desconfiança contrapondo-se com a crença individual, o conservadorismo com seus dogmas e rigores. John Patrick Shanley não nega suas origens: desmede a fixação pelas cenas prolongadas em diálogos expressivos, breve mudança de cenários e o foco é justamente no efeito psicológico dos personagens - tudo é amplamente duvidoso, sugestivo às interpretações, pois o espectador tende a compartilhar da tensão e das mesmas incertezas vivenciadas pelos personagens. Tudo é colossal: a fragilidade balanceada com a tempestividade, as verdades se mesclam com as mentiram e geram, daí o título, dúvidas intermináveis. O ser humano é a personificação da incerteza? Diante das adversidades a única solução é agir com receio? Como provocar a credibilidade em si e no próximo? O choque é justamente essa dupla-interpretação que o filme incita. O que é verdade pode ser uma mentira e vice-versa. Nem tudo é absoluto, definitivo e constante. Meryl Streep é um dragão faminto, cruel e agride com sua sutileza interpretativa - domina o filme com olhar, gestos e uma voz agressiva, dotada de firmeza. Philip Seymour Hoffman cativa como o padre suspeito, misto de charme e ternura - seria um homem de Deus ou um profano dissimulado? Amy Adams conceitua o misto da inocência, ingenuidade e emoção imaculada. É um filme que permite reflexão durante e após o término. Eis um efeito cinematográfico arrepiante, banho de técnica e plena sensibilidade de argumentação.
Há 2 horas
28 opinaram | apimente também!:
Opa, estamos cheios de excelentes indicações heim?
Este sim é aquele filme que passa a mensagem do seu título, deixa todos os expectadores nA DUVIDA!
Excelente, principalmente hoje, quando todos temos nossas reservas quanto aos religiosos seja ele de qual for a crença.
Parece-me extremamente sensorial este filme, ao qual você enfatizou a parte subjetiva, instintiva e até mesmo conceitual da psicologia do ser humano. Com um cenário aplicadamente proprício para um bom filme, a metafora deve ser predominante e a sensação de dualidade deve ser desafiadora e até mesmo envolvente ao extremo. Belíssimo texto, com um enfoque pessoal e ao mesmo tempo universal.
Abraços.
Se o final desse filme fosse um tantinho diferente seria uma porcaria. Mas como a questão que conduz todo o filme é mantida até o final ele merece sem dúvida (trocadilho infame rs) uma conferida mais atenta.
Meryl Streep é uma cidadã especial, ela consegue criar profundidade mesmo nos mais rasos personagens, o que é MUITO difícil.
Seymour Hoffman é brilhante desde Boogie Nights e só vem comprovando sua capacidade dia a dia.
Amy Adams é uma enorme surpresa, quem a ve em Encantada (toda meiga e fofuxa) e compara seu personagem ao de Dúvida prevê uma carreira longa e vitoriosa a essa menina, que é talentosa e uma tremenda gata.
Abraços !
Obs: Se o Bruno tem medo do seu blog, isso eu não sei dizer rsrs. Mas eu não tenho e só não comento quando não vi ou li o que você posta, ou quando não acho que possa ter algo a acrescentar.
Dúvida é um filme extremamente difícil de se falar a respeito. É uma obra densa, muito eficiente no seu propósito.
Como é um filme que prima pelos diálogos e pelo lado psicológico, não há aquilo que muitos chamam de "roteiro dinâmico", embora haja entretenimento do começo ao fim.
A personagem que absorve todas as dúvidas - sejam as religiosas ou as comportamentais - é a Irmã James, brilhantemente interpretada por Amy Adams, que nada lembra a jovem e vívida Giselle, de Encantada. Podemos perceber que ela entra em conflito não somente pelos "problemas" religiosos e éticos que a envolvem, mas também pela sua postura severamente criticada por Irmã Aloysius, que é extremamente respeitada.
Philip e Meryl, presa e predador - ambos, porém, com igual força -, nos presenteiam com interpretações firmes e ao mesmo tempo perigosas. O tom errado faria com que o espectador se tornasse tendencioso, acreditando mais em um do que no outro. E isso, felizmente, não acontece.
Viola Davis não impressiona pela participação artística, mas sim pelo posicionamento acerca do assunto que é extremamente delicado: e se a sedução for mútua?
Dentre os filmes que vi em 2008, esse é um dos que eu mais gostei. Achei-o muito bem trabalhado, extremamente satisfatório. E Amy merecia o Oscar a que concorreu. E até tive vontade de abraçar sua personagem - e olha que eu não sou fã de freiras!
Até me deu vontade de revê-lo.
É uma pena que eu não o tenha em casa.
Não existe nada mais genial neste filme do que o seu desfecho, que deixa todo mundo em Dúvida!
sofrendo.
a locadora pertinho daqui fechou.
:)
Filme bastante bom que vale uma nomeação para o ócar a Seymour Hoffman...
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
Cris,
este filme é tenso mas é seguro. O autor que dirige soube muito bem lidar com sua dramaturgia.
Elenco digno. Filme interessante.
É sair do cinema não em Dúvida , mas assertivo em sua opinião.
Ótimo texto.
Abs!
o filme poe em xeque a questão: o que é incesto afinal?
o menino gostava de ser bem tratado pelo padre e a mãe não via com maus olhos saber que o filho mesmo sendo seduzido pelo padre estava sendo bem acolhido, afinal não é isso o que as mães querem que seus filhos sejam bem cuidados?
enfim, eu gostei das questões abordadas e do elenco afiado
Rapaz só filme bom hein!!! cinefelo vc.
Aparece lá em casa.
Abraços
ps msn para papos ocasionais: lucianofabre@hot
Duas coisas a mais que admiro aqui no blog, vai colocando na lista ai, são: você não coloca spoiler, coloca a dúvida mesmo pra gente assistir hehe, apimenta... e outra... impossível ler desatento, você capta as coisas e dá pra ler mais de 2x o texto e sempre acho uma coisa nova, um ponto novo.
Ainda não vi o filme não cris. E quero. Muito. Bom, sabe que acho Meryl Streep one of the best. Adoro mesmo ela, em qualquer papel. Quase comprei o dvd... mas como disse, o Milk foi na frente. Tavam meio carinhos ambos e não pude comprar. Ahh, também gosto da capa dele, vc não? Achei boa. Remete a uma outra época de filme, um quase outro estilo de poster, não sei explicar.
Abraço meu Amigo.
^^
Acho de fundamental importância às pessoas cuja pretensão é de assistir ao filme, que elas o façam de mente aberta do início ao fim.
Minha irmã, por exemplo, é advogada e ficou impossibilitada de ir além dos preceitos técnicos de sua faculdade, não conseguiu enxergar além das possibilidades. Tudo bem, é um filme cuja visão requer muito mais dos nossos sentidos e instintos do que um pensamento mais lógico. É muito mais subjetivo, é exatamente por isso que devemos nos desnudar de todo e qualquer preceito técnico e excepcionalmente racional para chegar a uma conclusão própria.
Assim com a Irmã Aloysious, eu também descobri a minha certeza... e a cada vez que reassisto ao filme, fico mais convicta da minha opinião.
Pra ser completamente franca, acho que o filme é de um contexto intelectual excelente e não deixa absolutamente nada a desejar.
Como sempre uma resenha perfeita, bem estruturada e que aborda pontos cruciais dessa obra fantástica.
Amy Adams está perfeita em seu papel da frágil e manipulável freirinha.
O quarteto de atores (Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis) está impecável em suas composições interpretativas. Todos, merecidamente, foram indicados ao oscar.
ainda naum esse filme mas tem dois atores que eu venero
Que louco velho, eu loquei exatamente esse filme ontem, não pude ver ainda, mas o farei hoje. Achei espetacular sua crítica... Na verdade, fiquei com bem mais vontade de ver agora (eu só tinha locado por causa da Meryl Streep).
Valeu pelo comentário e pelo elogio no meu blog \o estou a segui-lo xD
Primeira visita e já me deparo com uma indicação de filme desses!
É pra me fazer viciar e vir mais vezes...rs
Teu blog é muito bacana cara!
Abração!
fala Cristiano, tudo bem? Eu já estive aqui no seu blog, e tinha gostado muito. Acho legal a maneira como você escreve, e agradeço pelo comentário lá no meu blog. Já vou colocar o seu na minha lista, sim!
ainda não vi esse filme, mas está na lista!
abraço.
Não seu blog é realmente bom..
só não tinha tido tempo para comentar antes...
mas gosto bastante..alias vou te linkar no meu blog mais tarde...
abraços,
Tobias
A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas. (Horácio)
Bommmmmmmmmm diaaaaaaaaa
e bom final de semana;
Criiis, bom dia!!! tudo bem? Que bom que passou agora que estou online , no meu blog..é um pouco dificil eu entrar rsrs.. Obrigado pela visita.
Eu adoro filmes onde não exista Fato e sim, interpretações...este me parece ser bem sugestivo, lindando com desconfianças, suspenses, tudo muito nebuloso mas ao mesmo tempo muito claro. As verdades vindo a a toa aos poucos iisu é muito bom...
Vc faz faculdade de cinema? hehe..
Aqui, este filme está em cartaz agora, ou já é antiguinho?
AbraçãoooOOOoo viu?
Eu nunca leio críticas de filmes para vê-los com os olhos livres de preconceitos. Mas esta eu li por inteira e fiquei com muita vontade de assistir o quanto antes!
Bela crítica!
Já vai a ser a próxima pedida qdo for locar algum!
Abraços!
Obrigado pelo comentário...
vou ver este filme
abraço
Enrredo sedutor, temática convidativa! Espararei o filme, sr.Contreiras, para matar minha curiosidade e mexer com "minhas verdades"...
=D
Vi este filme faz tempo e gostei muito. As mulheres baseiam-se sempre num sexto sentido para decidirem se será verdade ou mentira! Mas penso que ali, a verdade era o que menos interessava!Havia um rapaz com problemas de adaptação que revelava já indícios homossexuais. O único amigo era o padre e a própria mãe pediu
á freira para deixar estar as coisas como estavam, com medo da reacção do pai. O resultado final foi a infelicidade de várias pessoas, por questões éticas e moralidades discutíveis.
Dúvida com certeza foi um dos filmes do ano. Roteiro denso, entradas fantásticas e a cima de tudo interpretações brilhantes. Meryl e Philip eu esperava muito e como sempre me dão mais. Amy Adams, na minha opinião, surpreendeu até ela mesma. Ingenuidade, confiança, paixão, fé, tudo em uma personagem? Muito bom!
Adoro Dúvida! Com certeza o filme mais injustiçados do Oscar deste ano...
O brilhantismo do roteiro deste filme está não somente em levantar a dúvida mais óbvia sobre se ocorreu o ato pedófilo, mas em levantar várias outras e nos levar a questionamentos importantes. Ótimo texto o seu. Sou seu seguidor agora. Estou também em um site leve e divertido chamado Filmow, acho que deve conhecer. Procurei você por lá e não achei. Se fizer parte, me add; estou lá como Danilo Alves. Abraços.
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