Mentira é serpente

O que preceitua a mentira? É impactante observar o último filme em preto & branco protagonizado por Audrey Hepburn. Em Infâmia, ela personifica Karen Wright, uma professora que mantém um forte laço de amizade com Martha Dobie, Shirley Maclaine em desempenho soberbo. Juntas lecionam e administram uma escola particular para meninas na Nova Inglaterra. A problemática do filme gira em torno da crueldade plena de uma criança que cria uma calúnia envolvendo as duas professoras, só para se livrar de obrigações e deveres escolares. Mary, mimada e agressiva, acusa as duas de manterem um relacionamento amoroso, lésbico, secreto e pornográfico. O mundo vira ao avesso, eis a catarse: a menina incita verbalmente as professoras, compulsivamente, criando mentiras maliciosas sobre Karen e Martha. Consideradas íntimas sexuais dotadas de perversão pecaminosa, as duas educadoras se deparam com preconceitos, críticas e julgamentos por parte de todos. Como manter a verdade perante uma imagem destruída? A partir daí a escola tende a ser alvo de revolta: os pais retiram as meninas da instituição e a polêmica vem à tona. Fofocas, intrigas e muita maldade é criada pela menina. Todos passam a crer que as meninas foram molestadas pelas professoras - infames e pecadoras - e o escândalo atinge a comunidade. Imagine como foi a repercussão deste filme em plenos anos de 1961? O diretor William Wyler concebeu um novo efeito cinematográfico com este argumento, até então incomum neste período cuja época ignoravam esse tipo de comportamento. O roteiro é dotado de muito cuidado em sutilezas, devido aos problemas com a censura, tudo é muito implícito. Porém, há diálogos bastantes diretos e afiados, situações de pura intensidade dramática - principalmente pelo embate interpretativo proporcionado por Hepburn e Maclaine: ambas intensas, determinam uma interpretação única com forte teor emocional, diante do abalo conturbado. Como se livrar do inferno? Diante de um escândalo é difícil restabelecer uma vida em pedaços. O filme tem um aspecto elegante na fotografia em P&B, apoiado pela direção precisa de William Wyler que cria planos e cenas de pura estética, puro charme. A película garante uma força dramática absoluta, certamente um dos melhores clássicos realizados. Há cenas dirigidas com perfeccionismo técnico, garante um melhor foco no realismo psicológico dos personagens. As crianças são malvadas, frágeis e sem esteriótipos infantis - retirando o aspecto inocente e teatral dos filmes mais antigos. A fotografia garante closes perfeitos nos olhos e rostos das atrizes, é belo observar o melhor filme protagonizado por Audrey Hepburn, num misto de tristeza e meiguice. Trágico, triste e sufocante - o filme não envelhece. É um estudo sobre como uma mentira pode destruir uma vida, para sempre. Um escândalo denegride o próprio caráter humano?

31 opinaram | apimente também!:

Paulo Alt disse...

Cris,
tenho q falar, foi você que fez eu prestar mais atenção na Audrey Hepburn. Só conhecia My Fair Lady [que recentemente surgiu boatos sobre um possível remake já com diretor definido, não gostei de saber]. Depois que assisti Bonequinha de Luxo agora sempre vou imaginar aquela cena do café da manhã. Bom, estilo Saraiva se você me entende. Moon River marcou também. E tenho que te agradecer.

Achei a trama deste increvelmente nova pro tempo. Me espantei, pelo poster notei que seria algo tenso, mas não assim. Ainda mais para um longa em preto e branco. Claro, sem contar que me lembrou bastante o filme da Cate Blanchett que postou aqui, mesmo também não tendo assistido.

Notei também que tocou no "aspecto teatral dos filmes antigos". Sabe que é uma coisa que também acho? Nunca cheguei a comentar com você, mas se entendi direito você pensa o mesmo né? Se esse não tem... mais um feito pro cinema e pra época. Acha então que esse é o melhor filme dela? Como eu não vi?

Ah, e que bom que você não é como eu e atualiza quase todo dia o Apimentário. Também quero ser como você, hehe. É um guia teu blog.

Abração. ^^

Mero disse...

gosto desse filme pq mostra que nem toda criança e pura e ingenua .

Bridget Jones disse...

Poucas vezes eu vi uma resenha crpitica tão bem embasada sobre um filme denso como este!

Adoro a Shirley e nesta película espercificamente ela esta de fato "soberba".

Parabéns pelo talento.

Beijo

Anônimo disse...

Cristiano

O bacana desse filme é como ele mostra a nossa realidade cruel, mostra o ser humano como ele é, principalmente no que tange a parte mais abastada da sociedade.

Aparece amigo

Anônimo disse...

Parabéns pelo seu blog! É de primeira!
Bom, to te seguindo aí cara
flw!

Amanda Aouad disse...

Infâmia é um belo filme, só não gosto muito do nome pouco atraente, The Children-s hour é mais interessante.

Anônimo disse...

Realmente uam historia intrigante...A analise também é interessante...

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

um clássico dos clássicos ... para mim uma das melhores atuações de Audrey Hepburn e Shirley Maclaine ... a direção de Wyler é impecável, inovadora e revolucionária para época ... parabéns por nos brindar com esta obra prima ... quem não assistiu vai um conselho ... é imperdível

bjux querido

;-)

Dewonny disse...

Filmaço do William Wyler!
Audrey Hepburn e Shirley Maclaine estão ótimas!
Aquela garotinha q era uma diabinha tbm interpretou bem o seu papel..
O final é genial, com a personagem de Audrey tentando abrir a porta, e a sombra na parede entrega o q aconteceu, um final e tanto!
Abs! Diego!

Jorge Oliveira disse...

Minha mãe jah dizia que tudo que Audrey interpretava virava sucesso com garantia de qualidade.
Filme bom eh aquele que a gente vê anos e anos depois sem perder a audácia.
Boa crítica!

Gian Fabra disse...

admito a falha na minha formação, ainda não assisti a esse filme...

Até quis mas nunca o encontrei.

depois da resenha deu vontade de corrigir a falha
abs

Bruno disse...

Quero muito ver, mas acho que será difícil encontrá-lo!Imagino como deve ter sido visto o filme na época, me lembro o seminário sobre o livro "Bom Crioulo" que apresentei na semana passada, que também criou grande revolta por ser um livro com "temática" homossexual em 1895. E esse filme deve ser muito interessante, pois fala de como alguém pode ser prejudicado pelas calúnias, um tema sempre atual.
Já estou te seguindo, mas você não está nos seguindo...:(
Abraços!

História é Pop! disse...

Querido,

deixei dois selinhos para você lá no meu blog tá!?

bjao

bom final de semana

Magui disse...

Eu vi este filme há anos e não tinha capacidade de pegar todo o contexto.Vou tentar ver de novo.

As duas atrizes faziam parte do melhor elenco de uma época onde interpretar era o principal do artista em um filme.

BRENNO BEZERRA disse...

Ainda não vi, mas essas 2 mulheres me desconstrói.

Ná Lima disse...

Já ouvi falar nesse filme, me disseram que são ótimos. Vou aproveitar a dica e procurar um bom lugar pra baixar ;)

Cintia Carvalho disse...

Oi Cris!

Ainda não tive a oportunidade de ver este filme e confesso não o conhecia. Fiquei sabendo dele por intermédio de um amigo.

A história parece ser boa e o tema bem forte. Em 1961, um filme com este tipo de narrativa acredito que tenha chocado o público da época. E o cinema, como sempre, tentnado abordar questões que muitas vezes tentamos esconder ou disfarçar.

Enfim, assim que der vou vê-lo para poder fazer minha avaliação pessoal.

Seu texto ta ótimo.

AH, obrigada pelas palavras de carinhosas. Fiquei imensamente feliz com o que disse e acredite o que falei em relação a vc foi sincero e verdadeiro. Gosto muito do seu blog e da qualidade de suas abordagens.

Um abraço e um ótimo final de semana.

Rodrigo Mendes disse...

Cris,

O William Wyler foi o melhor artesão técnico de Hollywood. Ele era capaz de dirigir qualquer clima, atmosfera, perfeitamente. Um cara que não conhecia a palavra atalho. Perto dele só mesmo Sidney Lumet. Hitchcock e Kubrick.

A Audrey Hepburn tem um charme excepcional e faz um ótima parceria com a Shirley Macleine (obviamente você ja assistiu Sweet Charity, rs).

Parebéns pelo texto e a resposta a sua pergunta esta no filme.
Um filme com ótimo antagonismo, conflitos e tensidade emocional sobre a ótica perfeita de um cineasta.

Adoro 'Ben -Hur' do Wyler (meu favorito dele) pra você ver o ecletismo do cara!

Abs!

Bruno Cunha disse...

Audrey Hepburn é uma actriz por excelência...

Abraço
http://nekascw.blogspot.com/

Prissyrj disse...

Taí um filme da Audrey que eu nunca vi....vou procurá-lo logo....e essa menina aí, hein, cruz-credo....

Querido, muito obrigada pelos elogios lá no blog. Eu adoro qdo as pessoas gostam do que eu escrevo! Sinta-se à vontade para estar lá sempre!

vou linkar o seu também....já vi que você também é adepto dos clássicos...:)

Grande abraço!

Luiz Fernando Cardoso disse...

Cara, às vezes pego-me a pensar que somos menos de 2% da população! Refiro-me a quem escreve! Em País de analfabetos funcionais, escritores (profissionais da área ou não) têm a responsabilidade de mudar esse cenário. O jeito é incentivar a leitur e escrever, sempre! Sucesso com o blog.

Marcelo Augusto disse...

Posso ser sincero ?!
Está foi a melhor crítica que já li por aqui, e este filme, nossa, que temática! Me invadiu uma vontade sufocante de vê-lo, algo inexpressável. Hepburn deve estar fantástica! A temática me envolve, de verdade.

Abraços!

susana disse...

Adoro ver filmes antigos,mas desta actriz só me lembro de ter visto "Sabrina" e pouco mais!Além de ser uma bela mulher, com uns olhos lindíssimos e muito expressivos, tem charme e elegância inatos!
Estarei atenta ao título deste filme e não perder a oportunidade de o ver!

Esdras Bailone disse...

Muitíssimo interessante esta sinopse, me lembrou por alto dois outros filmes mto bons NOTAS SOBRE UM ESCANDALO e DÚVIDA. Vi esse dvd a poucos dias na livraria Cultura, mas ñ me ative á sinopse, fiquei apenas admirando a fotografia em sepia de Audrey q amo desde BONEQUINHA DE LUXO e Shirley por qm me apaixonei em O ENTARDECER DE UMA ESTRELA, as duas devem estar realmente magníficas neste filme!!!

Olha Cristiano, seu blog é incrível, super clean e maravilhosamente bem escrito, parabéns!!! Tô seguindo desde já.

Abços!!!

Felipe disse...

Que ótima crítica, parabéns. Seu blog é muito bom, pretendo frequentar!
Quanto ao filme, eu não conhecia, mas fiquei muito interessado. É uma lástima que aqui na minha cidade seja tão complicado encontrar filmes clássicos pra alugar, e na internet então nem se fala. Mas vou atrás mesmo assim.

abraços

Natacia Araújo disse...

Você acredita que a gente quase não encontra filmes clássicos como este por aqui? é uma pena.
Parabéns Cris!

Unknown disse...

Hepburn foi uma grande diva do cinema. Discreta, não voluptuosa, mas suficientemente glamourosa.

Reinaldo Glioche disse...

Desvendaste esse filmaço. E ainda disse tudo, o filme não envelheçe. Os tempos atuais estão aí para elevar a grandeza da fita. ABS

Thiago Paulo disse...

Olá,, ainda não conferi esse, mas Willian Wyler é um diretor fantástico... Sabe fazer dramas como ninguém. Você já viu Pérfida? Muito bom também...

Esse já está na lista de filmes que quero ver!

Clenio disse...

Oi...

Finalmente assisti hehe!

Sensacional, em especial pela atuação da Shirley MacLaine, uma atriz que venho redescobrindo ultimamente. Adoro como a dúvida vai crescendo dentro até mesmo das protagonistas, em uma notável complexidade psicológica criada pela autora da peça teatral, Lillian Hellman.
Vale lembrar que existe uma versão anterior, estrelada por Merle Oberon, que simplesmente ignora a dubiedade sexual implícita mas nem tanto nessa refilmagem.

Abraços,
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

LuEs disse...

Como eu não tinha comentado aqui antes?

Eu simplesmente adoro The Children's Hour! Para mim, é um dos melhores filmes já feito no que diz respeito ao debate das consequências da mentira. É notável o modo pungente com o qual é exposto o problema das personagens e a consequente situação dele: aquela cena final - tão dramática, tão bela -, fica na mente dos espectadores por muito tempo.

Excelente trabalho de ambas as atrizes, tanto Shirley MacLaine quanto Audrey Hepburn. É bom, aliás, vê-la num filme que não a retrate como uma personagem em "fase de amadurecimento".

Certamente, vale a pena vê-lo inúmeras vezes!

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