Alma em suplício é o belo condicionamento da independência da mulher perante as limitações do machismo, do aprisionamento de uma vida infeliz e da descrença familiar. A peculiaridade do filme é justamente na plasticidade, argumento e estrutura narrativa: o filme é um noir disfarçado de melodrama vestido de noir. O foco é na personagem Mildred Pierce - daí o título original - e seu desespero quando é suspeita principal do assassinato de seu marido. A partir daí, a própria Mildred passa a contar os fatos e toda sua vida é transmitida num febril flashback: com isso, passamos a observar o seu duro trajeto de ex dona de casa, mãe dedicada e que batalha para dar uma condição à filha - esta que, desde criança, mostra um dom pela maldade, desejo pela riqueza e certo apreço desesperado pela futilidade do dinheiro. A menina leva a mãe ao desespero: totalmente cruel, interesseira e ambiociosa femme-fatale. Veda é ingrata e não desmede seu caráter duvidoso. Mildred ainda descobre que a filha se envolve com seu atual marido, padastro dela. Como se livrar do fardo de uma vida decepcionante? Joan Crawford interpreta sua Mildred com tamanha exatidão, firmeza e intensidade até com o seu olhar inebriante: o Oscar de melhor atriz não foi à toa. O filme tem um contexto ousado: o enredo atende perfeitamente as expectativas de adoradores tanto do melodrama quanto do filão policial.
O diretor Michael Curtiz tem no currículo filmes como Casablanca - neste concebe bons enquadramentos estéticos, mobilidade e cuidadosa condução dos atores em cena. A fotografia de Ernest Haller é critério charmoso do filme: conceitua áreas sombrias, desenhos criados ao fundo e jogo de planos nos espelhos com um estilo bastante elegante - é pura sedução observar uma atmosfera de luzes carregadas de negativismo, introspecção e mistério que traça o destino de Mildred.
É interessante observar que Joan Crawford recebe em várias cenas uma luz recortada, precisamente acima de sua testa, tons claramente expressionistas - algo como uma nuvem negra que está sempre acompanhando a pobre mulher? Os elementos densos principais - deslealdade, traições e cobiça são focos presentes, perfeitamente adequados e a adaptação da obra de James Cain não apresenta dificuldades. O tom do melodrama se acentua com o misto de suspense e certo teor policialesco. Os personagens são contraditórios, inconstantes e plenamente humanos. Eis um retrato ardente sobre a independência moral, amorosa e financeira de uma mulher. Um filme que conceitua dilemas familiares, desejos inesperados e frustrações de grande tensão.
O diretor Michael Curtiz tem no currículo filmes como Casablanca - neste concebe bons enquadramentos estéticos, mobilidade e cuidadosa condução dos atores em cena. A fotografia de Ernest Haller é critério charmoso do filme: conceitua áreas sombrias, desenhos criados ao fundo e jogo de planos nos espelhos com um estilo bastante elegante - é pura sedução observar uma atmosfera de luzes carregadas de negativismo, introspecção e mistério que traça o destino de Mildred.
É interessante observar que Joan Crawford recebe em várias cenas uma luz recortada, precisamente acima de sua testa, tons claramente expressionistas - algo como uma nuvem negra que está sempre acompanhando a pobre mulher? Os elementos densos principais - deslealdade, traições e cobiça são focos presentes, perfeitamente adequados e a adaptação da obra de James Cain não apresenta dificuldades. O tom do melodrama se acentua com o misto de suspense e certo teor policialesco. Os personagens são contraditórios, inconstantes e plenamente humanos. Eis um retrato ardente sobre a independência moral, amorosa e financeira de uma mulher. Um filme que conceitua dilemas familiares, desejos inesperados e frustrações de grande tensão.
19 opinaram | apimente também!:
Cris,
seu texto teve uma passagem técnica, na estética artística do filme que me despertou! Continue a elaborar mais este lado, que enriquecerá ainda mais suas escritas já cultualmente únicas. Mais pimenta neste molho! rs..
Michael Curtiz fora um cineasta 'faz-tudo', enfrentava qualquer problema, como Wyler, Lumet, Hitchcock, um artesão do cinema - realizador da prática/execução. Fez Casablanca, um filme difícil ir às telas!
A Joan Crawford me cativa, uma estrela que não morre, ainda preciso ver todos os filmes estrelados por ela. Falarei do filme' O Que Terá Acontecido a Babe Jane?' na saga 'Cinema em P&B'.. aguarde!
Isso, apimente mais clássicos, please!
Abs!
Vlw pela Dica...
seu blog está demais...
bjsss
Pra mim, os melhores filmes são aqueles em que tem a mulher como centro ou foco da história. Acho que dá um charme pro enredo. Um glamour.
Abraços.
Fiquei intrigado com a definição deque o filme é um "noir disfarçado de melodrama vestido de noir". Sou fã de literatura noir, e, baseado em seu artigo, creio que Mildred Pierce deve ser assistido o quanto antes.
Cris, sempre com os textos bons, é uma pena que as indicações fica um pouco dificil de achar neh .. deveria nos indicar aonde achar ...
É uma boa dica!
Assim nao ficaria uma coisa monotoma!
Belesmaaaa?
Abração!
Olá Cristiano,
Gostei bastante de você falar sobre um clássico, principalmente com a diva Joan Crawford, arqui-inimiga de Bette Davis(eu falei de BD lá no Madame Lumière) rsrs...
Não conheço este filme, mas quero ver a femme fatale dele, Veda deve ser a maldade em pessoa.
Beijo da Madame!
Deixei mais um selinho para você, fiquem a vontade em aceita-lo ou nao e também em seguir as regras
bjo
Júnia
Querido Cris:
Agora deu vontade de assistir o quanto antes este filme. Dela já assisti Principícios D'alma e amei, ela realmente era incrível. Parabéns por este blog ser tão informativo e rico.Bom demais te ler.Beijooo e linda semana.
Faz sentido o que diz sobre o filme, assim como o talento de Joan Crawford.
Acredito que muitos filmes do passado conseguiram se destacar por se tratar de uma mulher no comando do personagem principal.
E parabéns pelo texto.
Com as tuas críticas, eu morro de vontade de conhecer esses filmes, que eu nunca ouvi falar, mais que parecem ser tão bons!
Adoro seu blog, as dicas são ótimas!
Parabéns.
Olá Cris!
Interessante um filme de 1945 que aborda temas bastante tensos. O ar noir, com essa fotografia que vc descreveu deve ser uma maravilha de se assistir.
Do Michael Curtis só assisti Casablanca e Canção da Vitória... por enquanto!
ABraços
Este é um clássico que ainda não tive oportunidade de assistir.
Michael Curtiz foi um ótimo diretor, hoje um pouco esquecido e Joan Crawford teve uma carreira com personagens brilhantes.
Abraço
Nossa, não me lembrava desse filme.Na verdade, ainda nã me lembro. Se vi não consigo puxar pela memória.De qualquer maneira, sua resenha me fustigou.
ABS
Cris,
Esse estilo noir-policial-dramático ficou implícito no seu texto todo. Serião. Sabe que até que foi ótimo você ter colocado esse justo depois do American Psycho? Ah, e boa imagem usada! Não sei se você percebeu mas ao lado, logo em cima do texto que perguntei pra você [o "...but shouldn't have" - que achei diferente tb], parece existir a imagem de um anjo meio pássaro naquele tom vinho. Uma coisa meio "o corvo", num parece? Lembrei que você disse desse expressionismo todo, e parece mesmo.
Vergonhosamente agora fui eu que fiquei no limbo da alienação hehe, tirando pelo diretor de Casablanca.
Parabéns!
Ah, nem tem mais graça eu ficar repetindo isso =/ Preciso encontrar palavras novas.
Abraçoooo ^^
ainda nao tive a oportunidade de ver esse filme mas tentarei bjs cris
ainda nao tive a oportunidade de ver esse filme mas tentarei bjs cris
Oi ´Cris!
Nossa vc me fez viajar e voltar no tempo. Vi este filme quando tinha mais ou menos uns quinze ou dezesseis anos na sessão de gala da Rede Globo.
A trama é muito interessante e Joan Crawford está muito bem no papel. Mereceu e muito o ocar A filha má interpretada pela desconhecida Ann Marie Blyth se sai muito bem, gostei demais da interpretação dela. Pena que não fez muito sucesso.
Seu texto ficou muito bom.
Ps. fale mais de filmes antigos, pois eu adoro quando vc me faz relembrar de histórias gostosas que marcaram minha adolescência.
Um beijinho carinhoso.
Joan Crawford é uma das atrizes mais espetaculares a ter dado a honra de nos permitir assistir a suas atuações. Dona de um rosto de expressões fortes, uma voz grave e um estilo próprio de atuação, acrescentava a qualquer filme de que participava uma sempre bem-vinda dose de inteligência e glamour - não um glamour coquete, mas um glamour de mulheres de verdade. Não à toa sempre se deu melhor na pele de mulheres donas dos próprios narizes, na tela ou fora dela.
Já assistiu a "Mamãezinha querida", em que Faye Dunaway a interpreta??? Brega de doer, mas vale uma espiada.
Bjo grande,
Clênio
www.lennysmind.blogpsot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
Fiquei curiosa em assistir a este filme. Gosto muito do gênero noir. Um abraço.
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