Amor pela dança

Se há um filme mais deliciosamente cativante para a arte libertária musical cinematográfica? Billy Elliot é um trabalho primoroso da direção emocional intensa de Stephen Daldry. Tão inovador, tão simplório - o contraste faz parte da estética, tanto narrativa quanto interpretativa. É um filme centrado em dramas humanos, em valores precisos de questões verdadeiras. A delícia da narrativa é focar num garoto de 11 anos, Billy (Jamie Bell, totalmente visceral), que, em vez de preferir lutar box, como seu pai deseja, é atraído por um grupo de dança de balé clássico, onde só há garotas. Billy tende a ter desejo em vivenciar a magia do embalo gostoso da dança, o fascínio do balé serve de alimento para a própria reflexão de sua vida e, gradualmente, um estímulo à maturidade. Billy passa a ter mais ânimo em viver e é justamente desse quadro emotivo que a película trata, magistralmente. Como dar vazão aos seus desejos? Como lidar com a vocação inabalável? É emocionante observar o entrave do garoto, de uma cidade interiorana da Inglaterra, com um pai focado em padrões do machismo, da ignorância e do descaso paterno. Somente sua professora, Mrs. Wilkinson (a intensa Julie Walters), consegue compreender a vocação do aluno e a necessidade de dar um incentivo, visto que ele tem uma vida precária e limitada em preconceitos, bem como problemas e ausências sentimentais. Decerto, há talento promissor em Billy - há sensatez de corpo e alma à dança. Portanto, há nele uma esperança que jamais deve ser desacreditada: precisa enfrentar a contrariedade de seu irmão e de seu pai neste árduo caminho rumo à satisfação.

A dança move o destino? O prazer é estar imerso nesse percurso de música, dança e amor. O roteiro, extremamente delicado, é pungente em provocar a reflexão sobre luta contra preconceitos, desejos juvenis e valores familiares. Sem fazer uma crítica agressiva social, o filme adota da linguagem dinâmica de diálogos inteligentes/emocionais - mantendo a riqueza e a musicalidade do sotaque local - com o sustento da trilha sonora riquíssima em hits de T-Rex e The Clash para fortalecer uma aproximação dos personagens com o público. A fotografia, bem cuidada, mas discreta, emoldura o norte da Inglaterra com competência.

A trama se passa nos anos 80, há um tom intenso de nostalgia. Há, ainda dentro do melodrama, valores de homossexualidade: um dos amigos de Billy gosta de vestir roupas femininas, usa maquiagem da mãe e demonstra certo desejo por ele - obviamente, tudo sem vulgaridade, com bastante sutileza. E Jamie Bell conduz seu Billy com delicadeza, ora imaturo juvenil, ora másculo rebelde decidido. A doçura narrativa, o tom intimista e a direção deliberadamente singela reproduzem o status da pura arte cinematográfica - nota-se um exercício dramático mesclado ao leve humor que reflete num pequeno grande filme. Não é um épico, mas uma peça de composição que penetra corações. Aborda a superação dos limites, com uma verve de pura beleza e poética humanitária.

Eis uma lição de vida, um poema juvenil de esperança para nossa sociedade mergulhada na hipócrita severidade. Há uma quebra dos tabus sobre a orientação sexual de bailarino - visto que Billy não é homossexual, mas respeita as diferenças (seu melhor amigo gay tem seu apoio) e mostra ao pai que não só homens homossexuais se interessam por balé. Por ser heterossexual, Billy não deixa de ser imensamente sensível e ter qualidades femininas. Eis um filme sexualmente libertário. Pequena obra-prima.

33 opinaram | apimente também!:

Bruno Cunha disse...

É uma obra espectacular!
E concordo contigo. Em Billy Elliot, vários tabus são quebrados assim como novos paradigmas são feitos, acompanhados por uma óptima banda sonora, diálogos inteligentes e com o protagonista, Jamie Bell, a revelar-se um jovem promissor! Comovente!

Abraço
Cinema as my World

Marcio Melo disse...

Um filme muito lindo e que assisti tem 1 ou 2 anos. Lembro de ter me emocionado bastante.

Pequeno 'Clássico', podemos chamá-lo assim?

Mirella disse...

Eu acho Billy Elliot um filme tão bonito, mostrar a vontade de uma criança em realizar seus desejos que acabam se tornando sonhos, dançar balé. Tipo já vi incotáveis vezes, mas desse filme eu não me canso. Bjoss Blogmurus

Marcelo Pereira disse...

Agradou-me bastante, mas, infelizmente, acabo sempre por compára-lo às duas restantes obras de Daldry (As Horas e O Leitor), que são grandes trabalhos do realizador. Ainda assim, Billy Elliot é uma pequena surpresa, o conta com uma grande interpretação de Jamie Bell!

Abraço

Anônimo disse...

Mais uma vez parabéns pela bela critica a este filme. Considero o filme com uma obra prima pela qualidade em relatar a vida de forma clara e verdadeira e mostrar que devemos estar sempre prontos a vencer quaisquer tipo de preconceitos.
Cris, você se super a cada dia trazendo filmes que realmente merecem ser vistos.

Abs

Fernando disse...

Ainda não assistir a este filme, mas não há um que não recomenda. Preciso ver!

LuEs disse...

Billy Elliot é definitvamente um bom filme. Acredito que Daldry não poderia ter iniciado melhor sua carreira como diretor reconhecido de outra maneira, afinal, essa é uma obra bastante tensa e intensa, que aborda tema difíceis. Muito dirão que não, mas é óbvio que a sociedade encara como o arte o ballet, mas enxergam com extremo preconceito os homens que dançam, como a escolha profissional e artística o obrigasse a ser algo que ele talvez não seja.

Nas mãos de outro diretor, talvez o filme se tornasse pedante. Nas mãos de Daldry, tornou-se uma obra memorável, que consegue abrigar uma série de dilemas e consegue ainda construir fonts de orgulho e desconstruir conceitos pré-concebidos acera de dança, da homossexualidade, do autoritarismo paterno.

Quanto ao aspecto artístico, apenas acho que as coreografias apresentadas por Billy realmente não são interessantes. Embora o garoto faça ballet, ele nada se assemelha com um bailarino e lhe falta a psotura correta de alguém que tneha mesmo feito aulas. Talvez deveriam ter escolhido algum ator que REALMENTE fizesse ballet!

Reinaldo Glioche disse...

Muito bem colocado Cristiano. Um belo filme e sua resenha captura brilhantemente o espírito dessa pequena obra prima de Stephen Daldry.
ABS

Unknown disse...

A grandeza de Billy Elliot reside na simplicidade. No fato de o cinema tocar num assunto tabu através da sinceridade e do carisma de uma criança, que antes de tudo, não parece demosntrar pré-conceitos ou pre-determinismo em relação ao seu dom. Billy Elliot encanta a cada passo de dança, a cada cena belamente coreografada, e a pureza infantil de Jamie Bell irradia (e inebria) o espectador. Daldry tem aqui o seu melhor trabalho depois de "As Horas", e me surpreende como um filme tão intenso tenha sido esnobado pelo Oscar 2000, que preferiram dar crédito à um amontoado de produções clichês e imbecis. "Billy" não é apenas o melhor filme de 2000, é também um dos cinco melhores trabalhos da última década.

Tania regina Contreiras disse...

Se fala de dança, já me interessei! Estou à cata de filmes que falem de arte, lembre-se de mim e comente-os aqui vez ou outra. Vou dar uma passeada nos seus arquivos e ver o que encontro de pulsante.
Valeu a dica...
Estou também retribuindo a visita e voltarei.
Beijo

Alan Raspante disse...

O filme é mesmo uma obra-prima, muito bem feito e emocionante !

Gustavo disse...

Concordo com tudo, também adorei esse filme. É sobre liberdade de expressão, mas num contexto inusitado. Lindo, lindo, lindo.

Eu daria um destaque também a Gary Lewis, ótimo como o pai de Billy!


Cumps.

Serginho Tavares disse...

um dos meus filmes preferidos
amoooooooooooooo³³³³³³³³³³³

Serginho Tavares disse...

um dos meus filmes preferidos
amoooooooooooooo³³³³³³³³³³³

Marcos Eduardo Nascimento disse...

Este filme é outro ótimo exemplo de que "o grande e verdadeiro" cinema está bemmm longe de Hollywood. É um ensaio da descoberta ,nao somente da sexualidade, mas acima de tudo: encontrar o seu lugar no mundo. O jovem Billy faz isso com louvor, por que tinha todos os motivos do mundo para continuar "no mesmo" em visto do que era apresentado a ele. Não deixou-se abater e foi além, fez a sua escolha, a qual o levou à dançar no Royal Ballet. Uma viagem fantástica e única. A transformação que ele passa é tão forte e constante que nem percebe e é assim que as grandes transformações acontecem em nossas vidas! Um filme belo, único, atemporal e definitivo. Cris, fiz uma reflexao desta produção em meu blog, também. É um dos meus preferidos.

Assistam.

Kamila disse...

Adoro "Billy Elliot". O curioso é que, realmente, o filme quebra vários tabus. Para mim, a história é simples: o garoto tem um sonho e luta por ele, independente dos outros acharem que aquele não é o caminho que ele deve seguir.

Amanda Aouad disse...

Verdade, concordo que seja um filme lindo. A trajetória de Billy Elliot é maravilhosa e sensivelmente bem contada.

bjs

leo disse...

Sou muito curioso pra assistir a Billy Elliot,tanto pelos diversos elogios que sempre ouço e também pela filmografia irretocável de Stephen Daldry.
Abraços

Unknown disse...

"Um poema juvenil", realmente muito bem escolhidas as palavras para descrever um filme tão lindo e que tem tanto a dizer, e diz!
Nunca me canso de determinadas cenas. Deu vontade de rever...de novo. Bjos. =D

Cristiano Contreiras disse...

NEKAS: Sim, vários tabus em um filme magistral!

MARCIO MELO: Podemos sim, de fato é!

MIRELLA: Blogmurus, é um filme único, né?

MARCELO PEREIRA: Eu prefiro ele que O Leitor, sabia?

GILSON: Obrigado! Tento propor a reflexão em cima de certos filmes!

FERNANDO: Veja, vale muito a pena!

LUES: Um filme singelo, mas amplamente forte! Eu acho o melhor de Daldry, acredite...e não acho as coreografias não menos interessantes, pra mim tem brilho! Abs

REINALDO GLIOCHE: Com certeza! abs!

WEINER: Assino embaixo, é mesmo um filme com todos esses significados!

TÂNIA REGINA CONTREIRAS: Vou levar pra você ver! rs

ALAN RASPANTE: Concordo, rs

GUSTAVO: Lindo e muito perfeitinho! Um filme que não esqueço!

SERGINHO TAVARES: Um dos meus também!

MARCOS EDUARDO: Concordo contigo! E lerei sua percepção do filme, no seu blog! Abs!

KAMILA: É simples, mas é de simplicidade que o mundo há de ser grandioso!

AMANDA AOUAD: Sim, sensível é um ótimo requisito pra definir o filme! Beijo

LEO: Loca, veja logo, rs!

LIANA: Amiga, obrigado pela presença sublime no meu blog. É um filme que víamos tanto, em meados de 2000, lembra? Bons tempos! Saudades! Beijos!

Guto Nascimento disse...

Esse é um dos meus "filmes de cabeceira"... Fantástico! Adorei o blog!
Abraços!

Rafael Carvalho disse...

O melhor desse filme é como o diretor defende o desejo do garoto em realizar um sonho, ainda mais por ser ele tão jovem, mas mesmo assim tão decidido.

Anônimo disse...

Me emociono todas as vezes que assisto a este filme! AMO!

Edilson Cravo disse...

Querido Cris:

Mais uma dica anotada, vou procurar este filme.Saudades de ve-lo no Lua hein...rs
Bjão e linda semana.

Hugo disse...

É um daqueles filmes que sempre deixo para assistir depois.

Preciso conferir.

Abraço

Rodrigo Mendes disse...

Dançante!
UP!
Otimista!
Original!
Diferente!
Billy Elliot, rs!

A gente se sente fora de nossa gaiola dourada pronto pra sair voando... um dia vou sair dançando pra Europa! HA HA

Ótima resenha, Abs!

Robson Saldanha disse...

Dia desses estava comentando no twitter sobre Stephen Daldry. Seu 100% de aproveitamento em indicações pelos seus filmes como melhor diretor. Que é um diretor em ascenção e que fiquei curioso por Billy Elliot após constatar ser dele. Antes não tinha muito interesse e não faço a mínima idéia do porquê!

Medeiros Alencar disse...

Obra sem dúvida inquestionável.
Além de seu fundo emocional pesado, foi bem dirigido. Diálogos bem estruturados.
Massa mesmo.
Te indico "O céu dividido".
Assiste e me diz o q achou.
ahhh... sentindo falta de uma visita sua no meu blog.

Einstein² disse...

Um filme lindo e brilhante, muito bem colocado em sua resenha. Ele eleva ao máximo a tradução do que é o amor pela arte!
Ósculos e Amplexos!

Cristiano Contreiras disse...

GUTO NASCIMENTO: Um dos meus também, obrigado pela presença!

RAFAEL CARVALHO: Com certeza, mas vai mais além pela expressiva narrativa emocional!

EFS: Também me emociono, sempre!

EDILSON: Veja este, viu? abs!

HUGO: Puxa, anda precisado de bons filmes, hein? Este é fundamental!

RODRIGO MENDES: Up, up there! rs

ROBSON SALDANHA: Ah, eu vi quando lançou, na época nem sabia quem era o Daldry - hoje ele tem nome, mas este filme, pra mim, é o melhor dele. E tenho dito. Pois, assista, viu? Abs!

MEDEIROS ALENCAR: Muito bom mesmo, totalmente emocional, sim! Ah, já comentei Céu dividido aqui, procure nos arquivos, abs!

EINSTEIN: Obrigado, viu? abs!

Clenio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ramon Pinillos Prates disse...

Esse filme é bom mesmo, mas eu vi no cinema, nem lembro de muitos detalhes.

Clenio disse...

Billy Elliot" é o primeiro de uma série de filmes magistrais de Stephen Daldry, um dos cineastas mais geniais em atividade. Tem um roteiro redondinho, enxuto, inteligente... Uma trilha sonora contagiante, uma história extremamente humana e um elenco de tirar o chapéu. Adoro a cena em que Billy, em vez de tentar convencer seu pai com discursos apenas começa a dançar à sua frente. Gary Lewis, como o pai de Billy me emociona muitíssimo e Jamie Bell precisa urgentemente encontrar outro bom diretor e seguir sua carreira iniciada brilhantemente.
Um filme indispensável!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Aperitivos deliciosos

CinePipocaCult Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos Le Matinée! Cinéfila por Natureza Tudo [é] Crítica Crítica Mecânica La Dolce Vita Cults e Antigos Cine Repórter Hollywoodiano Cinebulição Um Ano em 365 Filmes Confraria de Cinema Poses e Neuroses