
Paulie é idealista, corajosa, apesar de sua graça feminina age como uma espécie de dominadora na relação, há nela atos masculinizados. E gosta muito de Shakespeare e adora parafraseá-lo. Já Victoria é mais delicada, insegura. Gradativamente, Mary passa a ganhar confiança das amigas e ganha o status de confidente. Ela é o símbolo da carência feminina: exímia frágil, muito tímida e introspectiva, demonstra uma crível sensatez. Muito inocente, inexperiente, observadora - tenta compreender o universo do lesbianismo a sua volta. Diante da ausência materna, procura nas companhias das meninas amantes um refúgio, conforto e uma possibilidade de vitalidade. Será que, através do amor alheio, ela consegue adquirir mais esperança de vida? Como superar perdas dolorosas? Mary vivencia toda a sexualidade e torna-se parte do universo de aprendizado do elo que cria com Paulie e Victoria - entre as intimidades, ela reflete a própria existência? E há cenas de sexo entre as duas com muita sensualidade, beleza e poeticidade emoldurada por uma boa fotografia. Mas, o destino traça sua crueldade: as amantes são pegas nuas na cama. Temendo reações negativas das internas, das professoras e também de seus familiares: Victoria retrai-se diante da pressão insuportável. Decide terminar a relação amorosa e passa a ter um caso com um garoto.
É então que a overdose sentimental do filme transforma-se na confusão juvenil, o roteiro de Judith Thompson, baseado no livro de Susan Swan, ganha mais força: Paulie, irremediavelmente, não aceita ser descartada e, com o amor ferido, desmede uma obsessão absurda contra Victoria. Tem descontrole emocional, ataques histéricos, demonstra uma instabilidade comportamental que consegue assustar até Mary - e ela tenta, a todo custo, abrandar o coração magoado da amiga. Funcionando como um alicerce ao desequilíbrio de Paulie, Mary tenta proteger a amiga e também a fazer com que a situação não atinja o caos. Como entender a dor alheia? A compaixão é necessária. Mary se interpõe no universo das duas amantes, antes. Após o rompimento, ela passa a funcionar de escudo protetor ao desequilíbrio de Paulie: esta, totalmente destruída e amarga, demonstrando uma dependência submissa a ex-namorada. O filme pauta o processo doloroso do amor doentio, do ciúme descabido, do sentimento de posse. E há o contexto da família: todas as três têm uma carência familiar que reflete nos seus atos, ânsias e percepções.
Mas, é a homoafetividade que é o cerne do roteiro que foge de clichês e convence no realismo. E a confusão da opção sexual é nítida: a personagem Victoria demonstra medo, insegurança e não consegue expressar seu desejo sexual a todos - por isso, permite-se ao ostracismo do próprio sentimento: esconde-se numa relação aceita pela sociedade, a heterossexualidade. Afirma que seus pais são religiosos e teme confrontá-los, pois eles não aceitariam sua orientação sexual. Por isso, embora ame Paulie, nega esse amor e sofre para viver a vida sonhada pelos pais. As atuações do trio feminino central são envolventes, intensidade interpretativa. Mas é Piper Perabo que fascina com sua verborragia e expressividade psicológica como Victoria. A direção da suíça Léa Pool é cuidadosa, emocional, sensível - procura apresentar, com diálogos francos, essa atmosfera de um amor delirante, preconceitos sociais, conflitos sexuais. A trilha sonora hipnótica de Yves Chamberland é etérea, densa e irretocável e exerce um tom coerente com a emocionalidade das personagens. Um trabalho simples, mas elegante e repleto de dignidade.

Direção de Léa Pool
Roteiro de Judith Thompson, baseado em livro de Susan Swan
Com Piper Perabo, Jessica Paré, Mischa Barton, Jackie Burroughs, Mimi Kuzyk
26 opinaram | apimente também!:
Cara, nãop conhecia esse filme, pelo que comentou deve ser interessante de se assistir. Gosto de filmes sim, e esse ainda tem Mischa Barton, gosto dela.
Abraço!
Poucas vezes vi um filme tão bonito quanto esse. Embasado numa estrutura simples, o filme conquista não apenas por mostrar o desenlace de um romance homossexual feminino, mas também nos apresenta uma análise do ser humano.
O convívio entre as três garotas é intenso e nas personagens encontramos a confiança, a ânsia pelo que é novo, a introspecção e também o desespero interno. Decerto é uma obra que não apela para o sexual e que se baseia no roteiro para tornar-se maior. As garotas perdidas e delirantes a que o título do filme faz referência perderam-se de si mesmas e juntas elas conseguem se reencontrar, seja na amizade, seja no amor - na expiação e, por fim, na redenção.
Um filme que vale muito a pena!
Adoro esse filme, assisti há muito tempo, deu até vontade de rever. Parabéns pela delicadeza com a qual falaste dele.
Amei Cris, amo esse filme, e vc o descreve perfeitamente, capitando toda beleza e sensibilidade do filme! =)
Paixões juvenis, em síntese. Parece interessante: anotado devidamente! rs
Beijos
O Amor tem três sexos
e nenhum documento!
=)
Eu já tinha lido sobre esse filme no Cinema e Eu, mas você falou sobre mais acontecimentos no filme que me deu uma imensa vontade de assisti-lo. Bjos
primeiro desculpa por nao passar por aqui antes estava sem net, putz adorei o blog, ainda nao vie este filme mas desd q li o post ja comeceia procurar aqui pela net rsrsrs obrigado pelas visitas abraço
;D
Um belo filme, de fato. Vc traduziu muito bem o espírito da obra Cris. As atrizes estão especialmente encantadoras.
ABS
Fui apresentado a esse filme já, realmente, é um filme muito lindo e especial de se assistir.
Postagem nova aqui, bjs.
Também não conhecia este filme, mas gosto muito da Jessica Paré. Quero conferir!
Acho que já vi o final desse filme duas vezes, fiquei até curiosa pra ver o filme inteiro. Se não foi esse é algum outro com a Piper Perabo fazendo papel de lésbica.
De qualquer forma, o filme parece ser bem legal, vou procurar pra assistir.
bjuw
Vo procurar ver o o filme! xD
Valeu pelo coments!
Blog mto demais! flw
A força da sociedade opressora fazendo as vezes pro cima do amor verdadeiro... seja hetero ou homo, podemos ver pessoas largando relacionamentos por questoes socio-economicas, raciais e de orietação sexual... filmes como este devem ser legais para confrontarmos com o que vemos em nossa sociedade!
Fiquei curioso pra ver como acaba essa historia...
Oi...
O que eu mais gosto nesse filme é realmente a sua densidade dramática, a maneira com que a trama se desenrola sem apelar para clichês do gênero "filmes sobre homossexuais". Mais do que um filme sobre homossexuais, é um filme sobre o amor - um tanto obsessivo, mas será que o amor, por ser obsessivo é menos amor?
Gosto das atrizes, do roteiro e das metáforas e simbolismos que o filme apresenta. Um dos melhores do estilo.
Grande abraço
Clênio
www.lennysmind.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com
Suas resenhas são o máximo cara.
Abraço.
Mais um filme que eu não conheço, e mais um filme que você me deixa louco para assistir,rs
...
Mais uma sugesrao tua que vou procurar para ver!!!!!!!! Nao deixo muitos recados aqui mas teu Blog é de uma riqueza indescritível! Gosto... e muito! Ricardo
Cris,
Comentei com vc que lembro desse filme na estante da locadora há mtoooo tempo. Sério, não foi um que me interessei na época e q tb não me interessaria no geral. Mas sua crítica levantou um porém nisso e mudei minha idéia.
Também gosto mto da Mischa Barton e achei que todo esse roteiro esconde algo que não é pra ser considerado um filme B qualquer. Acho o poster bonito.
Se encontrasse ele talvez compraria. Mesmo sem ter visto.
Grande Abraçoo. meu caro. ;]
Quando assisti a este filme, lembro de não ter gostado tanto. Mas eu era muito novo, não percebi todas essas nuances...
Merece mais uma chance, sem dúvida.
Abs.
dado a dica, a gente corre atrás.
abs
Adorei o artigo...Parabéns a quem o escreveu!!!
Adorei o artigo!!!parabéns a quem o escreveu...
Adorei o artigo!!!parabéns a quem o escreveu...
Já agora que estamos a falar sobre intimidade feminina, fica aqui uma dica para todas as mulheres. Uma recente descoberta minha e que de certo vos pode ser útil...
www.lactacyd.pt
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